Tiago Carvalho
U Porto
Já Está Arranjado? Do Estatuto e Sentido da Reparação de Artefactos
24 October 2023, 16h00 (Lisbon Summer Time — GMT+1)
Sala Mattos Romão (Room C201.J – Department of Philosophy)
School of Arts and Humanities – University of Lisbon
Abstract
O título da minha comunicação baseia-se em larga medida no capítulo escrito para um livro ainda no prelo sobre manutenção e reparação de artefactos e infra-estruturas. A ideia ao longo da apresentação será explorarmos como a reparação de um artefacto levanta várias questões metafísicas e epistémicas. Será que reparar implica restaurar a função própria de um certo artefacto? E o que implica saber reparar um artefacto? Há alguma relação entre o saber científico e tecnológico necessário à construção de um artefacto e o saber necessário à respectiva reparação? Pode haver uma ciência da reparação? Para tentar responder a estas questões utilizarei conceitos da pós-fenomenologia e de teorias metafísicas da função de artefactos de forma a avançar com uma teoria geral da reparação que coloca a ênfase no sentido que um certo artefacto cumpre no mundo da vida dos seus utilizadores. Pretendo também estabelecer como a natureza do saber necessário à reparação é um saber prático, tácito e altamente contextualizado, mas precisamente por isso, um saber frágil e precário. A reparação é uma acção hermenêutica que abre a caixa negra do artefacto e põe em jogo a sua ambiguidade, i.e., e a forma como as intenções e as formas de vida dos utilizadores interagem com as intenções dos fautores dos artefactos. Essa ambiguidade é por sua vez posta em evidência através da forma como a transferência de artefactos entre diferentes culturas gera diferentes interpretações sobre a sua função.