Adriana Veríssimo-Serrão
Praxis-CFUL | University of Lisbon
Mundo da Vida e Vida da Técnica: A Tragédia da Cultura Moderna segundo Georg Simmel
23 May 2023, 17h00 (Lisbon Summer Time — GMT+1)
Sala Mattos Romão (Room C201.J – Department of Philosophy)
School of Arts and Humanities – University of Lisbon
Resumo
Georg Simmel (1858-1918) terá sido o primeiro filósofo a conduzir uma rigorosa descrição da civilização técnica, estudando as implicações do predomínio da cultura objectiva sobre a cultura subjectiva, não apenas nas esferas económica e social (a economia monetária e a divisão do trabalho), mas também nas diferentes modalidades de pensamento (a hegemonia das ciências naturais, o espírito analítico, a matematização, o intelectualismo). As descrições que compõem Philosophie des Geldes, de 1900, irão sendo integradas, em escritos posteriores, numa visão filosófica do mundo de matriz orgânica, para a qual todos os fenómenos se inter relacionam e mutuamente se alteram segundo o princípio da acção e da efectuação recíproca (Wechselwirkung). A noção de tragédia da cultura (“Der Begriff und die Tragödie der Kultur”, 1911) oferece um seguro fio hermenêutico para nos orientarmos nesta imensa teia de inter-relações: a cultura produz formas, que ora mantêm viva a energia da subjectividade que as cria, ora se desprendem dela para ganharem um estatuto de formas autónomas dotadas de existência própria. Em ensaios já clássicos sobre as grandes cidades (“Die Gröβstädte und das Geistesleben”, 1903) ou a moda (“Philosophie der Mode”, 1905), esta tensão entre formas viventes e formas objectivadas está presente na organização da vida quotidiana, nos estilos e comportamentos, nas relações interpessoais, e mesmo na sensibilidade dos indivíduos. O sombrio diagnóstico de Simmel sobre o incremento do mundo da técnica e dos poderes supra-individuais abre uma outra questão de natureza ética e antropológica: qual o futuro dos indivíduos em sociedades complexas e altamente mecanizadas? (“Die beiden Formen des Individualismus”, 1901; Lebensanschauung. Vier metaphysische Kapitel, 1918).