HPhil Seminar: September 26, 2024
The HPhil (History of Philosophy) Research Group of the Centre of Philosophy of the University of Lisbon announces the 2024/25 edition of its permanent seminar on the history of philosophy, devoted to the presentation of conferences by renowned specialists while also creating opportunities to emerging scholars, aiming to promote advanced studies in groundbreaking debates and the permanent training of its academic community.
In this session of the seminar, Rui Filipe (CFUL) will present a paper, entitled “O Fim (Filosófico) da Filosofia – Uma Questão Jovem-Hegeliana”, (abstract below)
The session will take place on September 26, 2024 at 5 p.m., in the Room C201.J (Room Mattos Romão, Department of Philosophy). Admission is free.
Abstract
Colocada a questão da relação entre marxismo e filosofia, normalmente, quase que de seguida, é-lhe associada a problemática daquilo que podemos chamar o fim da filosofia. Fundamentando-se em passagens da Ideologia Alemã, é já um afamado lugar-comum considerar que Marx desde cedo abandonou as pretensões, especulativas e mistificantes, da filosofia, para favorecer uma análise socioeconómica da realidade que estaria de acordo com as bases do seu “materialismo novo”. Não negando a sua pertinência na obra marxista, gostar-se-ia, porém, de realçar como a problemática do fim da filosofia não só não é exclusiva ao marxismo como também ela tem a sua raiz na tradição filosófica contra a qual Marx combatia directamente, o jovem-hegelianismo.
Com este fim, a minha apresentação propõe expor os pontos nodais deste movimento filosófico onde é possível surpreender o nascimento da mencionada problemática. Assim, irá ser feito um périplo resumido que focará os trabalhos de alguns dos nomes mais sonantes deste escola: David Friedrich Strauß, Bruno Bauer, August Cieszkowski e, finalmente, Ludwig Feuerbach. Abrirei com uma breve exposição da obra de David Friedrich Strauß, A Vida de Jesus. Nela, mesmo que de modo não planeado, surge o tiro de partida de muitos dos assuntos que irão preencher os debates do meio hegeliano na primeira metade do séc. XIX. Em seguida, com Bauer e Cieszkowski, mostrarei como esses debates se tornaram num verdadeiro apelo à filosofia se verter em acção política e, desse modo, se perceber criticamente nas limitações do seu exercício até então, algo que implica já uma inquirição à relação entre teoria e prática. Por sua vez, voltando de novo a temas aparentemente teológicos em Feuerbach, surgirá uma radical inquirição ontológica dos fundamentos da filosofia naquilo que se chamará de “não-filosofia”, o que iria pressupor a nascimento de uma nova “filosofia do futuro”.
Elucidados os momentos fundamentais do pensamento jovem-hegeliano contra a tradição filosófica onde nasceu, tentarei defender que, nesta busca do fim da filosofia, paira sempre a forte suspeita de que há algo de inerentemente filosófico nela. Situação essa que, mutatis mutandis, também não deve ser esquecida se a questão na ordem do dia for a da relação entre marxismo e filosofia.