HPhil Seminar: October 31, 2024
The HPhil (History of Philosophy) Research Group of the Centre of Philosophy of the University of Lisbon announces the 2024/25 edition of its permanent seminar on the history of philosophy, devoted to the presentation of conferences by renowned specialists while also creating opportunities to emerging scholars, aiming to promote advanced studies in groundbreaking debates and the permanent training of its academic community.
In this session of the seminar, Diogo Ferrer (Universidade de Coimbra) will present a paper, entitled “O que é o Tempo? Explorações conceptuais no Idealismo Alemão”, (abstract below)
The session will take place on October 31, 2024 at 5 p.m. It is to be noted that the session will be exceptionaly held in Room B.112C (Library Building). Admission is free.
Abstract
O período do idealismo alemão é exemplar para a filosofia pela busca incessante de justificar integralmente as perspectivas que assume, definir de modo explícito os conceitos de que se serve e por recusar pressupostos inquestionados. A filosofia exige de si própria, e não tem outro sentido senão o de trazer à inteligibilidade integral as suas teses e conceitos acerca do mundo, do conhecimento e da consciência humana. A aplicação dessas exigências a conceitos ontológicos fundamentais, como o do tempo, resultou em diferentes perspectivas teoricamente inovadoras, cujos traços fundamentais procuraremos apresentar de modo breve.
Iniciaremos as explorações conceptuais com uma apresentação do tempo como intuição pura na filosofia crítica e transcendental de Kant. A pergunta principal a responder será porque o tempo não pode ser entendido como um conceito, mas como forma da intuição e que consequências ontológicas e epistemológicas daí resultam. Que mundo teríamos com um tempo entendido de outro modo? Quais as consequências desta concepção do tempo para a auto-interpretação da razão e a sua divisão em teórica, prática, teleológica e estética?
A exploração é prosseguida com a concepção do tempo por Fichte como um modo necessário da síntese entre eu e não-eu. A questão a explorar com o autor é se há alguma vantagem teórica em não conceber a incompletude e o caráter serial da experiência como resultado da pressuposição do tempo, como acontece na consciência empírica, mas, ao contrário, compreender o tempo como função da incompletude e caráter serial da experiência. Segundo Fichte, a relativização do tempo à incompletude permite reconstruir de modo unificado as faculdades de conhecimento, a consciência reflexiva e explicar a constituição fenoménica do mundo.
Já a posição de Hegel acerca do tempo será enquadrada a partir do seu conceito de negatividade. Mostrar-se-á a negatividade como característica comum do tempo, da consciência e da linguagem humana. Questionar-se-á porque a concepção por Hegel do tempo como um conceito não acarreta as consequências teóricas desastrosas que Kant procurava evitar. Entretanto, a apresentação conceptualmente unificada de espaço, tempo e matéria permite construir uma Filosofia da Natureza em relação direta com a Filosofia do Espírito ao mesmo tempo em que aponta para uma concepção sistemática e unificada da razão, articulando tempo natural, psicológico e histórico. Por outro lado, apresentar-se-á as razões por que o pensamento de Hegel de algum modo elide a questão do futuro.
Uma referência à gestação do tempo segundo As Idades do Mundo de Schelling permitirá completar a exploração conceptual sobre o tempo no Idealismo Alemão com uma explicação acerca da constituição emergente, temporal, narrativa e histórica da auto-consciência humana.
O percurso pelos mais destacados autores do período permitirá articular razões para o facto de o tempo só ter um sentido, diferenciar-se em três dimensões e ser memória, atualidade e apontar para um futuro.