HPhil Seminar: October 3, 2024
The HPhil (History of Philosophy) Research Group of the Centre of Philosophy of the University of Lisbon announces the 2024/25 edition of its permanent seminar on the history of philosophy, devoted to the presentation of conferences by renowned specialists while also creating opportunities to emerging scholars, aiming to promote advanced studies in groundbreaking debates and the permanent training of its academic community.
In this session of the seminar, João Amorety (CFUL) will present a paper, entitled “A interpretação heideggeriana de Kant: 1927-29 vs. 1935/36”, (abstract below)
The session will take place on October 3, 2024 at 5 p.m., in the Room C201.J (Room Mattos Romão, Department of Philosophy). Admission is free.
Abstract
Os comentários à interpretação heideggeriana de Kant tendem a focar-se numa obra (Kant e o problema da metafísica) e num curso (Interpretação fenomenológica da Crítica da razão pura de Kant) produzidos por Heidegger entre os anos 1927 e 1929. Este período representa, de facto, o envolvimento mais intenso que Heidegger alguma vez teve com a obra de Kant, motivada em particular pela saliência que Kant dá ao tempo como o que torna possível o nosso encontro com entes. Mas é também durante este período que Heidegger desenvolve uma das suas mais controversas teses sobre Kant: nomeadamente, de que, na análise das sínteses da imaginação que consta da versão A da Dedução transcendental, Kant teria detetado que o tempo no seu desdobramento triádico em futuro, passado e presente é o que originariamente torna possível a referência dos nossos juízos a fenómenos, uma descoberta que ele teria imediatamente ocultado ao reduzir a imaginação a uma mediadora entre a intuição e o entendimento. Mas o foco neste período da interpretação heideggeriana obscurece algumas das ambiguidades e evoluções do seu envolvimento com Kant: por um lado, esta leitura da versão A da Dedução transcendental é apresentada por Heidegger na Interpretação fenomenológica da Crítica da razão pura de Kant como a “sua interpretação” por contraste com a posição efetiva de Kant (para quem a aperceção transcendental do entendimento, que não se dá no tempo, é a condição de possibilidade originária da nossa referência a objetos). Por outro lado, a imaginação deixa de figurar como faculdade originária na interpretação da Crítica da razão pura que consta do curso A pergunta pela coisa (1935/36), onde esse papel passa a ser atribuído ao entendimento e onde Kant deixa de ser caracterizado como figura antecipadora da temporalidade originária patenteada em Ser e Tempo (1927), mas antes como um continuador da conceção tradicional do tempo como uma sequência rasa de “presentes”. O meu objetivo com esta apresentação não é defender nenhuma destas fases da interpretação heideggeriana de Kant, mas sim analisar o que motivou Heidegger a rever a sua interpretação da Crítica da razão pura e, em particular, como esta revisão se prende com uma viragem na relação do seu próprio pensamento como a história da filosofia ocidental como um todo.