Praxis Seminar: Research Colloquium in Practical Philosophy 2023/24, Session 10

José Miranda Justo

Praxis-CFUL

A «Viúva Negra» da Filosofia: Haverá Lugar para Falar de um Conceito de Heterogeneidade em Filosofia?

20 February 2024, 17h00 (Lisbon Time — GMT+0)

Sala Mattos Romão (Room C201.J – Department of Philosophy)

School of Arts and Humanities – University of Lisbon

 

Abstract

Entendendo, em termos deleuzianos, a tarefa própria da filosofia como criação de conceitos,
mas pensando, por outro lado, os conceitos como entidades vivas e em devir constante
dentro de um plano de consistência, no qual se articulam com outros conceitos em
processos transformativos de colaboração/conflito, a minha apresentação visa perguntar se
a noção de heterogeneidade pode ser entendida como um verdadeiro conceito. Para
responder a esta questão darei alguns passos exploratórios. Primeiramente, começarei por
confrontar a heterogeneidade com duas outras figuras da diferença com as quais é
frequentemente confundida: a diversidade e a multiplicidade. Ver-se-á assim qual o modo
de agir próprio das heterogeneidades. Seguidamente, tratar-se-á de mostrar que, em
filosofia, a heterogeneidade, enquanto dispositivo heurístico, permite – em primeiro lugar –
exercer uma vasta quantidade de tarefas eminentemente críticas fundamentalmente
dirigidas contra as nefastas consequências da vocação profundamente «unitarista» da
tradição filosófica. De um modo geral, o tópico da heterogeneidade introduz uma crítica
frontal de todos os mecanismos organicamente redutores no seio das discursividades
filosóficas. De seguida, procurará evidenciar-se que a consideração de um espaço filosófico
para a heterogeneidade permite introduzir no trabalho filosófico dimensões de infinitude
potencial que apontam no sentido de um horizonte irremediavelmente mutante das
investigações nos diversos terrenos da filosofia prática e, ao mesmo tempo, dotado de uma
«abundância» previamente indeterminada. Esta abundância indeterminada abre igualmente
o caminho para uma compreensão da criação do radicalmente novo, designadamente – mas
não apenas – em arte. Finalmente, procurarei responder (provisoriamente) à difícil questão
de saber se a heterogeneidade tem uma ontologia própria ou, ao menos, uma inscrição
ontológica determinada/determinável. A tentativa de encarar este problema levar-me-á por
fim a defender que a heterogeneidade é e não é um conceito filosófico no sentido
introduzido no início da apresentação.