Curso Livre “A QUESTÃO DO TEMPO”

February 12, 2025

Coordenação científica: Filipa Afonso; Mafalda Blanc

 

Revisitar de modo pensante a história da reflexão filosófica sobre natureza do tempo nas suas linhas principais, mostrando como nela se joga a questão essencial da convergência entre o homem e o ser, tal é o objectivo do curso semanal que o CFUL se propõe realizar no 2º Semestre do Ano Lectivo de 2024/25.

Requer-se, como condição de acesso, o grau de Licenciatura, excepto para os alunos que estejam a frequentar o curso de Filosofia. A sua frequência, que ocorrerá às quartas-feiras a partir das 17 horas, habilita à obtenção de 6 créditos na correspondência ECTS e a um certificado final de avaliação, tendo esta por base a participação regular nas sessões e um ensaio escrito final.

 

Problemática a desenvolver:

 

Excluído da verdade do ser para o âmbito da aparência por Parménides, o tempo poderia ter sido visto como manifestação fenoménica daquele, mas tal interpretação acabou por não vingar. O mesmo destino de marginalização do tempo sucedeu na física moderna, que o entendeu como uma ilusão subjectiva decorrente do fluir assimétrico da corrente da consciência, que as equações matemáticas não registam. Criou-se assim um fosso em metafísica e na ciência entre o ser e o devir, a eternidade e o tempo, o mundo objectivo e a experiência subjectiva do homem, a teoria fundamental e a descrição fenomenológica.
Contudo, partilhamos a experiência do devir com o resto do universo e a nossa experiência temporal deriva daí. Não pode, por isso, haver uma cisão radical entre o determinismo da natureza e a liberdade da história, o que os Modernos começaram a reconhecer quer pelo incremento da agência humana, quer pelas novas ciências biológicas e humanas, ou mesmo, no âmbito da física, pelo estudo dos fenómenos dissipativos de acréscimo de entropia e irreversibilidade. Gradualmente veio assim a tomar-se consciência de que o tempo, na diversidade e riqueza dos seus modos, registos e estratos (contínuo e discreto, qualitativo e quantitativo, cíclico e linear…), não é apenas uma ilusão subjectiva, mas uma estrutura, ou mesmo, a essência do próprio ser, a potência através da qual este se põe e actualiza.
Hegel foi talvez o primeiro a fazê-lo ao afirmar, contra Kant, a unidade entre o tempo e o conceito, o tempo e o eterno. A seu ver, o tempo espacializado da natureza é apenas a face exterior da verdadeira temporalidade, que é negação do finito, negatividade a caminho da eternidade. Com efeito, na passagem da intuição para a imaginação e a recordação dá-se um movimento pelo qual o espírito se põe a si mesmo, se desenvolve idealmente e se revela como princípio da unificação do ser consigo mesmo. O tempo torna-se, assim, algo inteligível, uma matéria plástica sujeita a articulação e estruturação, e a razão, algo de temporal e sensível. As ontologias contemporâneas da temporalidade – Bergson, Heidegger ou Whitehead – vão na mesma linha de reabilitação ontológica do tempo quer como “duração criadora, “projecto lançado” da eksistência humana ou “princípio de criatividade”, contudo, o extraordinário equilíbrio alcançado por Hegel entre identidade e diferença, conceito e intuição, forma e conteúdo seria rompido em favor dos segundos. A filosofia ocidental terminaria na mesma unilateralidade com que começou, agora, porém, de sinal oposto, já não excluindo o tempo da órbita da verdade, mas o conceito.

 

Início: 12/02/2025

Fim: 30/05/2025

Inscrição até 10 de Fevereiro, através do envio do formulário de inscrição para c.filosofia@letras.ulisboa.pt

Quando:

Quartas-feiras das 17 às 20h

Onde:

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (sala a definir)