Projeto [Não] Abjeto: Pensar a Paisagem para além do Antropoceno
Projeto [Não] Abjeto:
Pensar a Paisagem para além do Antropoceno
Com transmissão e participação online
Apresentação do livro Projeto [Não] Projeto (Editora Sulina, 2022) de Paulo Reyes
Mesa Redonda com: Paulo Reyes (UFRGS), Adriana Veríssimo Serrão (CFUL), Arthur Simões Caetano Cabral (UNESP) e Dirk Michael Hennrich (CFUL)
Data: 8 de março 2024
Horário: 14h00 -17h00 (Portugal) / 11h00 – 14h00 (Brasil)
Local: Sala B112.G / Biblioteca da FLUL
Inscrições para receber o link da transmissão: https://bit.ly/colóquioprojetonãoabjeto
Contacto: philosophyoflandscape@gmail.com
Organização: Dirk Michael Hennrich (Praxis-CFUL)
Descrição:
Sujeito, Objeto e Projeto são conceitos que, na história do pensamento ancorada na cultura europeia, abrem cada um uma área temática específica e que, ao mesmo tempo, estão intimamente relacionados entre si. Na filosofia, o sujeito é um tema proeminente da modernidade, desde a descoberta do sujeito a partir do Renascimento e o regresso de Descartes ao ego cogito como paradigma muito discutido, passando pela Doutrina da Ciência de Fichte como ponto alto da filosofia do sujeito, até à progressiva dissolução do sujeito e ao crescente problema da identidade pessoal com a fragmentação do sujeito em autores como Friedrich Nietzsche ou Fernando Pessoa.
A dissolução do que é referido como objeto é também uma tendência da modernidade e não apenas acompanhada por desenvolvimentos e descobertas na física quântica, mas também a filosofia alterou fundamentalmente a sua conceção da relação entre sujeito e objeto. A esse respeito, a atualidade é o momento em que os sujeitos e os objetos são cada vez mais afastados da sua posição tradicional e se dissolvem cada vez mais nos novos meios virtuais, onde são apresentados como projetos, como meras projeções. Em contrapartida, no mundo dos objetos físicos e dos sujeitos corpóreos, que são progressivamente desintegrados sob a tempestade antrópica, prevalece o gesto do descarte, que consiste numa alienação crescente da temporalidade e do valor da experiência vivida.
A intemporalidade e a ausência de vida são as metas de uma cultura que declarou guerra ao devir com a ideia fixa de que os sujeitos, os objetos, e em geral todos os utensílios, devem ser sempre novos. Cada vez mais, a projeção carregada de esperança, a ideia do projeto como um desígnio positivo, é determinada por um gesto de descarte, em que a sociedade orientada para o consumo, aparada para a produção incessante do sempre novo, está sujeita a um determinado modelo económico, que é designado sob o termo da sociedade descartável.
Não é o sujeito, o objeto ou o projeto que determina a existência hoje, no sentido do carácter projetivo do ser-aí formulado por Heidegger, mas o ab-jeto, o descarte, o gesto de deitar-fora de uma humanidade que se fecha cada vez mais ao futuro.
No âmbito de uma filosofia da paisagem que se preocupa com a projeção do futuro dos sujeitos e objetos naturais e dos mais variados territórios terrestres e que segue uma abordagem transversal e multiespécie, o problema principal, em relação às possibilidades e necessidades da arquitetura paisagista, é o seguinte:
- Como é que o sujeito atual se projeta num futuro em que os objetos e os sujeitos naturais são cada vez mais tratados como ab-jetos?
- Que estatuto deve o projeto assumir para travar ou mesmo inverter a ab-jetivação —e não apenas a ob-jetivação— do mundo natural?
- O que significa ainda hoje a relação entre sujeito-objeto-projeto e que alternativas se abrem no contexto de um diálogo entre a filosofia e a arquitetura paisagista, que reconheça a paisagem como o local de um espaço de vida criativo, transversal e multiespécie?
Palestrantes:
Adriana Veríssimo Serrão é professora associada com agregação (jubilada) no departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. As suas principais linhas de investigação no âmbito da filosofia contemporânea são: Antropologia Filosófica, Estética, Filosofia da Sensibilidade e Filosofia da Paisagem. A par da intensa atividade como docente dedicou-se ao trabalho de tradução de autores clássicos da filosofia, tendo traduzido para português escritos de Kant, Ludwig Feuerbach e Georg Simmel. É autora dos livros A Humanidade da Razão. Ludwig Feuerbach e o Projecto de uma Antropologia Integral (1999); Pensar a Sensibilidade: Baumgarten – Kant – Feuerbach (2007); e Filosofia da Paisagem. Estudos (2013); e coordenadora dos volumes Filosofia da Paisagem. Uma Antologia (2011); Filosofia e Arquitectura da Paisagem. Um Manual (2012); Filosofia e Arquitectura da Paisagem. Intervenções (2013). Em 2019 editou, com Moirika Reker, Philosophy of Landscape. Think, Walk, Act.
Arthur Simões Caetano Cabral é arquiteto, urbanista e professor assistente na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/Campus de Bauru). Graduado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, possui mestrado e doutorado na área de Paisagem e Ambiente da FAU-USP. Sua principal linha de pesquisa se dirige à poética da paisagem e se baseia em estudos sobre córregos ocultos e floras ruderais, sob uma perspectiva dialética dos processos de apagamento e desvelamento da paisagem no meio urbano e das interações estabelecidas entre natureza e sociedade, com pressuposto na indissociabilidade entre Terra e Mundo. Desde 2011, é pesquisador junto ao Laboratório Paisagem, Arte e Cultura (LABPARC FAU-USP). Coordenou o Laboratório de Estudos Urbano-Paisagísticos (LUPA-UFG) entre 2018 e 23. É autor do livro Paisagens baldias: a natureza manifesta nas brechas da cidade, publicado em 2019 pela editora Appris, e pós-doutorando junto à Faculdade de Educação da USP.
Dirk Michael Hennrich é investigador doutorado na área da filosofia da natureza e do ambiente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CFUL) e professor convidado no Instituto Superior de Agronomia (ISA). Atualmente coorganizador da série internacional Antropocénica (Portugal 2022/Brasil 2023/Cabo Verde 2024), membro do Grupo de Pesquisa Ética e Direito do Animais, Diversitas-USP e colaborador estrangeiro do Grupo de Pesquisa POIESE (CNPq- UFRGS). A suas principais linhas de investigação se concentram na Filosofia da Natureza e da Técnica, na Filosofia da Paisagem e na Filosofia Animal. Entre as últimas publicações, se destacam o nº 9 da revista digitAR (Universidade de Coimbra); Antropocénica 1 (2023); Thinking Landscape (USP, 2023); e Atmosfera, Stimmung Aura (CFUL, 2022).
Paulo Reyes é arquiteto, professor associado do departamento de Urbanismo e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Planejamento Urbano, Doutor em Ciências da Comunicação tem Pós-Doutoramento em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa. Dedica-se aos estudos da filosofia da paisagem e do pensamento de projeto. É autor de Projeto [não] Projeto: quando a política rasga a técnica (2022); Projeto por Cenários: o território em foco (2015) e Quando a rua vira corpo: ou a dimensão pública na ordem digital (2005). Coordena o Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq POIESE laboratório de política e estética urbanas.