Curso Livre “TEMPO E EVOLUÇÃO”

October 2, 2024

CURSO LIVRE “TEMPO E EVOLUÇÃO”

Coordenação científica: Filipa Afonso; Mafalda Blanc

 

O CFUL promove, para o ano lectivo de 2024/2025, a realização de um curso livre bi-semestral gratuito com o formato de um Seminário semanal e subordinado ao tema “Tempo e Evolução”, um filosofema transversal à história da filosofia e dos saberes, mas que ganhou na contemporaneidade particular acuidade. Justifica-se, assim, a repartição dos conteúdos em dois Semestres, não sendo, porém obrigatória a frequência cumulativa de ambos.

Cada Semestre fornece um nº de 6 créditos na correspondência ECTS e um certificado de avaliação. Exige-se como condição de acesso o grau de Licenciatura, excepto para os alunos que estejam a frequentar o curso de Filosofia. A avaliação é feita a partir da participação regular no comentário de texto e da elaboração de um ensaio escrito e a bibliografia concerne textos seleccionados dos autores do programa.

 

1º SEMESTRE: DE HERACLITO A HEGEL

 

Início: 2/10/2024

Fim: 29/01/ 2025

Quartas-feiras das 17 às 20h (sala a definir) 

Conteúdo:

Embora o tempo tenha sido constituído como horizonte preferencial de referência da pergunta grega pelo ser, com a constituição da Metafísica dá-se uma gradual secundarização do mesmo na Filosofia como uma categoria acidental da essência atinente ao diverso sensível, o que paradoxalmente vai ser reforçado pela Física Clássica, que o reduz a uma variável matemática de carácter extensivo, um parâmetro dos sistemas físicos, que juntamente com o espaço, ele ajuda a referenciar. A partir do século XVIII, com a tomada de consciência do papel da evolução na Ciência e Cultura Europeias dá-se uma gradual mudança de paradigma. Kant, figura cimeira desta viragem, do ponto de vista de uma razão sensível mas transcendental vai-nos falar de uma aprioridade do tempo, viabilizando com a sua teoria do esquematismo e da síntese a priori uma inteligibilidade dos conteúdos particulares e sensíveis que jamais a velha ontologia dos universais tinha almejado alcançar. O seu projecto de uma teleologia da Razão Humana, abre caminho à Filosofia do Idealismo Alemão, uma nova forma de metafísica, em que a substância toma a figura do sujeito auto-ponente e o sistema tem por modelo o organismo, a acção e a finalidade, em suma o conteúdo mais significativo da experiência humana.

A relevância de Hegel neste processo deve-se a duas ordens de razão: 1. A sua doutrina do tempo procura conciliar o tempo destruidor da natureza com o tempo construtor do espírito, o que faz da subjectividade um processo de temporalização em aberto, que se dá e recebe a própria forma; 2. A sua teoria da negatividade procura superar a oposição entre tempo e lógica, mostrando que o espírito é tempo, tempo recordado, tempo projectado e sintetizado no conceito. O tempo, isto é, o devir que o próprio ser perfaz na sua correlação com o nada, torna-se, assim, algo inteligível, uma matéria plástica sujeita a articulação e estruturação, nas suas palavras, “o conceito na sua exterioridade”, e a razão algo de temporal e sensível.

Calendário das sessões:

1.Enquadramento histórico-filosófico do tema: horas totais: 56; horas de contacto: 15 (5T;10TP).

2.Introdução à Filosofia hegeliana de negatividade: horas totais: 112; horas de contacto: 30 (10T;20TP) Total: horas totais: 168; horas de contacto: 45 (15T;30TP).

 

2º SEMESTRE: DE HEGEL À CONTEMPORANEIDADE

Início: 10/02/2025

Fim: 30/05/2025

Conteúdo:

Com a descoberta da evolução no âmbito dos sistemas vivos (o papel do acaso e da selecção natural) e da historicidade no das sociedades (as novas dinâmicas da técnica, do trabalho, da economia e da política), o tempo começa a revelar a sua face inovadora com a aportação de novas interacções e estruturações do real. Tudo isto seria confirmado no século dezanove com a descoberta da irreversibilidade pela termodinâmica e a hipótese da auto-organização por flutuação, essencial para a compreensão da emergência da vida. De seguida Einstein, conferindo realidade física ao tempo, vai associá-lo ao espaço e imaginá-lo como uma rede suficientemente plástica e móvel para ser modulada por todas as formas de matéria-energia. Por sua vez Planck, no âmbito da microfísica, verificando o carácter discontínuo de toda a interacção entre partículas estatui uma unidade de tempo mínima indivisível – o chamado “muro de Planck, um limiar para lá do qual nenhuma duração de partícula elementar é observável. Se acrescentarmos a isto o tempo fenomenológico da consciência e o tempo/eternidade (aevum) das religiões e das metafísicas, surge assim toda uma diversidade de modos de temporalização, que a seta do tempo cosmológica observada por Hubble a nível experimental viria confirmar e ajudar a situar, obrigando a colocar a nível mais fundamental a questão, já candente, da relação entre emergência e entropia, ou seja, os aspectos novos da realidade derivados do tempo.

O conceito de tempo é, portanto, um daqueles filosofemas em que a história, isto é, o tempo real da agência humana na auto-produção e realização de si como espécie em interacção com o meio em torno, obriga a filosofia (e com ela todo um modelo fixista de lógica e de racionalidade) a uma mudança radical de paradigma. De categoria acidental ou periférica, adstrita ao âmbito secundário do empírico-fenoménico, o tempo (não determinado a priori por um programa) revela-se agora, na sua fundamentalidade, como a matriz e o vector dinâmico da cosmogénese em curso. Surge, então, o imperativo de uma nova “cosmologia filosófica”, a que as filosofias evolucionistas de Bergson, Whitehead vão dar expressão. De inspiração monista e mesmo plotiniana, as três convergem na ideia de que o tempo – quiçá, uma distensão da eternidade, repousa no uno e constitui uma processão da sua energia infinita. Quer seja entendido como “élan vital” (Bergson) ou como um “princípio de criatividade” (Whitehead), ele constitui a alavanca do real em estruturação, uma potencialidade em acto lançada para um horizonte de futuridade, onde as instâncias do novo, do acontecimento e de imprevisível entram no âmbito do pensável.

Deste modo, porque a negatividade sempre ameaça a unidade e estabilidade do presente com um novo porvir, o tempo não pode ser recolhido na unidade sistemática do conceito, como pensava Hegel, mas prevalece como essa inquietação do negativo, que sempre destotaliza a permanência do presente em curso, dispersando-o numa conexão de momentos exteriores uns aos outros. E é assim que, na esteira de Kant, as novas ontologias existenciais de Heidegger e Ricoeur vão relevar o papel heurístico da imaginação na produção de novos esquemas de inteligibilidade e acção.

Calendário das sessões:

  1. Filosofias evolucionistas: Bergson e Whitehead: horas totais: 22,5; horas de contacto: 22,5 (7,5T;15TP.)
  2. Poética da existência: Heidegger e Ricoeur: 22,5; horas de contacto: 30 (7,5T;15TP) Total: horas totais: 168; horas de contacto: 45 (15T;30

Inscrição até 30 de Setembro, através do envio do formulário de inscrição para c.filosofia@letras.ulisboa.pt