Colóquio Humanitas: Arte, Mitologia e Metafísica

November 23, 2023

O evento decorrerá de forma online nos dias 23 e 24 de Novembro.

Para receber o link zoom deverá proceder à sua inscrição, gratuita, através do formulário

Online event (23-24th November). To receive link, free sign up:
https://forms.gle/WHkCwLwyZ3qyVUQT9

 

O Colóquio Humanitas: Arte, Mitologia e Metafísica está acreditado como ação de formação de 15h para os Professores dos grupos de recrutamento 240, 410 e 600, relevando para a progressão na carreira.

 

É com enorme prazer que anunciamos o colóquio Humanitas: Arte, Mitologia e Metafísica a ter lugar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), nos dias 23 e 24 de novembro de 2023 e na Biblioteca do Goethe-Institut no dia 25 de novembro. A abrangência temática deste evento filosófico encontra a sua unidade no pressuposto metafísico de que “o fundamento da razão não é, ele próprio, racional” (Carlos João Correia, “Apresentação”, in Correia, Carlos João e Markus Gabriel (coord.), Arte, Metafísica e Mitologia, Colóquio Luso-Alemão de Filosofia, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2006, p. 11). Ou seja, de que existe uma relação imediata entre o pensamento objetivo-lógico-empírico e a atualização do pensamento mitológico. Com efeito, terá sido a propensão humana para ver o que não é verdade e querer o que (ainda) não existe que serviu de estímulo permanente ao seu desenvolvimento. Dotados da capacidade de criar os seus próprios artefactos e semióticas coletivas, os seres humanos reificaram as suas crenças, hipostasiaram as suas verdades, concretizaram as suas ilusões no decorrer da história da sua evolução. Não devemos, assim, descurar a presença recorrente da mitologia no âmbito dos estudos da cultura, da epistemologia, da ética, da estética e da filosofia de arte. O mito estabelece, portanto, uma ambiguidade entre o imaginário e o real: se, por um lado, nele prevalece o fantástico e o absurdo, também é verdade que ativamente procura dar significação às experiências mais básicas da vida humana. Se assim é, a mitologia pode ser muito primitiva em termos de conhecimento, mas rica em termos de significação. Daí Cassirer considerar que não devemos definir o humano através da propriedade da racionalidade, mas antes pela capacidade de atribuir significado às coisas, a qual poderá ser, do ponto de vista da história da evolução cognitiva humana, temporalmente prioritária ao pensamento lógico-formal.

Deve, no entanto, esclarecer-se que não é do nosso interesse perpetuar a narrativa já tradicionalmente consolidada que opõe razão e imaginação, mas, antes sim, reconhecer as condições pré-teóricas e pré-racionais que possibilitam a atualização do pensamento racional. É neste sentido que em todas as comunicações será possível descobrir a articulação que se presta entre “a experiência da razão no pensamento humano” e a “‘palavra mito’ como expressão relevante do nosso espírito” (ibid., p. 12). Tomando ainda em consideração que, muito embora não seja possível isolar a razão das suas condições de elaboração, também não nos é simplesmente permitido reduzi-la a essas condições.  Mito e razão, significação e conhecimento continuam a não denotar o mesmo, a despeito de as suas fronteiras inevitavelmente se cruzarem. A arte constitui, finalmente, a união perfeita entre estes dois polos só aparentemente antitéticos, funcionando como fator de resistência à total racionalização instrumental do mundo, sem cair no irracionalismo. Reconhecemos, então, à arte o estatuto de uma “nova mitologia”. “Nova” porque mais aberta à discussão, interpretação e crítica. “Mitologia” porque desempenha um papel fundamental na expressão e na compreensão da condição humana que continua a distinguir-se das predominantes ferramentas de análise metodológica, objetiva e mensurável.

Conferencistas: Ana Rita Ferreira, Carlos João Correia, Deepak Sarma, Elisabete M. de Sousa, Gregory S. Moss, Helena Costa Carvalho, José Pedro Serra, José Câmara Leme, José Miranda Justo, José Quaresma, Katia Hay, Markus Gabriel, Miguel Cereceda, Nelson Gomes, Paulo Borges, Sofia Miguens, Soraya Nour Sckell, Susana Oliveira, Tiago Sousa e Vasti Roodt.

 

Comissão organizadora: Filipa Afonso, Jeovet B. Virgínia, Manuel João Pires, Moirika Reker, Rui Maia Rego, Sara Fernandes, Susana Reis, Teresa Antunes e Tomás N. Castro

Contacto: humanitascoloquio@gmail.com

Mais informação em https://coloquiohumanitas.wixsite.com/humanitascoloquio

 

Gregory Moss

Crítica Absoluta em Filosofia como Metanoética, de Tanabe Hajime | Absolute Critique in Tanabe Hajime’s Philosophy as Metanoetics

Na sua comunicação, Gregory S. Moss explica o conceito de crítica absoluta presente no segundo capítulo de Filosofia como Metanoética, de Tanabe Hajime, “Crítica Absoluta: A Lógica da Metanoética”. Por um lado, Moss mostra como o conceito de crítica absoluta de Tanabe funciona como um desenvolvimento sistemático e racional da Crítica da Razão Pura de Kant. Por outro, Moss mostra como, simultaneamente, Tanabe afirma uma fé trans-racional em Outro-Poder, como o princípio através do qual se estabelece o limite da investigação racional.

In “Absolute Critique in Tanabe Hajime’s Philosophy as Metanoetics” Gregory S. Moss explicates the concept of absolute critique in the second chapter of Tanabe’s Philosophy as Metanoetics, “Absolute Critique: The Logic of Metanoetics.” On the one hand, Moss shows how Tanabe’s concept of absolute critique works as a systematic and rational development of Kant’s Critique of Pure Reason. On the other hand, Moss shows how Tanabe simultaneously affirms a trans-rational faith in Other-Power as the principle by which the limit of rational inquiry is established.

Bio

Professor Associado de Filosofia na Universidade Chinesa de Hong Kong. Antes de ingressar na faculdade da CUHK em 2016, foi leitor em Filosofia na Universidade de Clemson, entre 2014 e 2016. Completou o seu doutoramento em Filosofia em Agosto de 2014 sob a orientação do Professor Ricahard Dien Winfield e foi-lhe atribuída uma Bolsa Fulbright de Investigação em Bona, Alemanha (2013-2014). O trabalho académico de Gregory Moss está essencialmente focado nas questões metafísicas e epistemológicas sistemáticas que decorrem das tradições da filosofia alemã pós-kantiana e grega antiga. É autor de Hegel’s Foundation Free Metaphysics: The Logic of Singularity, ( Routledge 2020), que obteve o prémio Hegel PD de 2022.

Associate Professor of Philosophy at the Chinese University of Hong Kong. Before joining the faculty at CUHK in 2016 he was a lecturer in philosophy at Clemson University from 2014-2016. He completed PhD in philosophy in August 2014 under Distinguished Research Professor Richard Dien Winfield and was awarded a Fulbright Research Fellowship in Bonn, Germany (2013-2014). Gregory Moss’s scholarly work is mainly focused on systematic metaphysical and epistemological questions that stem from the Post-Kantian German and Ancient Greek philosophical traditions. He is the author of Hegel’s Foundation Free Metaphysics,: The Logic of Singularity, ( Routledge 2020), which won the Hegel PD prize for 2022.

 

Paulo Borges

A experiência da consciência pura, entre Oriente e Ocidente | The experience of pure consciousness, between East and West

A partir do debate entre Robert Forman e Steven Katz, exploramos manifestações ocidentais e orientais do potencial humano para uma experiência de consciência pura e incondicionada, livre de conceitos, palavras e imagens, incluindo as categorias hermenêuticas do sujeito e da tradição cultural e linguística na qual se inscreve, que na própria experiência se dissolvem e só posterior e retrospectivamente ressurgem. A possibilidade desta experiência sem conteúdo nem referências, a começar por sujeito e objecto, presente na tradição místico-contemplativa, mostra uma alternativa à fenomenologia da consciência intencional, atencional e relacional, dominante na filosofia ocidental.

Based on the debate between Robert Forman and Steven Katz, we explore Western and Eastern manifestations of the human potential for an experience of pure and unconditioned awareness, free of concepts, words and images, including the hermeneutic categories of the subject and the cultural and linguistic tradition to which he belongs, which dissolve in the experience itself and only reappear later and retrospectively. The possibility of this experience without content or references, starting with subject and object, present in the mystical-contemplative tradition, shows an alternative to the phenomenology of intentional, attentional and relational consciousness, dominant in Western philosophy.

Bio

Professor no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de Filosofia da mesma Universidade. Professor de Meditação e Medicina na Faculdade de Medicina da mesma Universidade. Coordenador do Seminário Permanente Vita Contemplativa. Práticas Contemplativas e Cultura Contemporânea, no Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Autor de centenas de comunicações e conferências, artigos e outros textos em revistas científicas e obras colectivas, publicados em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Croácia, Roménia, Turquia, Reino Unido, EUA, Brasil, Colômbia, Macau e Timor. Autor e organizador de 65 livros de ensaio filosófico, aforismos, poesia, ficção e teatro, publicados em Portugal, Espanha, Reino Unido e Brasil. Doutor Honoris Causa pela Universidade Tibiscus de Timisoara (Roménia), em 2017. Prémio Ibn Arabi – Taryumán 2019, atribuído pela Muhyiddin Ibn Arabi Society Latina, em 2019.

​Professor in the Philosophy Department of the School of Arts and Humanities of the University of Lisbon and researcher at the Philosophy Centre of the same University. Professor of Meditation and Medicine at the Faculty of Medicine of the same University. Coordinator of the Permanent Seminar Vita Contemplativa. Contemplative Practices and Contemporary Culture, at the Philosophy Centre of the University of Lisbon. Author of hundreds of papers and conferences, articles and other texts in scientific journals and collective works, published in Portugal, Spain, France, Italy, Germany, Croatia, Romania, Turkey, UK, USA, Brazil, Colombia, Macau and Timor. Author and organiser of 65 books of philosophical essays, aphorisms, poetry, fiction and theatre, published in Portugal, Spain, UK and Brazil. Doctor Honoris Causa from Tibiscus University in Timisoara (Romania) in 2017. Ibn Arabi – Taryumán Prize 2019, awarded by the Muhyiddin Ibn Arabi Society Latina in 2019.

 

Katia Hay

The Comic Force in Nietzsche and Schlegel | A força cómica em Nietzsche e Schlegel

In my paper I explore the notion of Romantic Irony in F. Schlegel’s philosophy by referring to his text on The Aesthetic Value of Greek Comedy from 1794. The aim of this is to understand the importance that the notion of joy has in his thought, and to argue that joy is essential to grasp the role that wit and irony have in his philosophical writings. This leads me to re-question the relation between Nietzsche and Romanticism, by focusing on a few passages from Beyond Good and Evil.

Na minha comunicação, exploro a noção de Ironia Romântica na filosofia de F. Schlegel, referindo-me ao seu texto sobre O Valor Estético da Comédia Grega de 1794. O objectivo é compreender a importância que a noção de alegria tem no seu pensamento, argumentando que a alegria é essencial para compreender o papel que a sagacidade e a ironia têm nos seus escritos filosóficos. Isto leva-me a reequacionar a relação entre Nietzsche e o Romantismo, centrando-me em algumas passagens de Para Além do Bem e do Mal.

Bio

Katia Hay é Professora na Universidade de Amsterdão. Obteve o seu doutoramento em Filosofia em 2008, realizado, sob regime de cotutela, nas Universidades Ludwig-Maxmilians (Munique) e Sorbonne (Paris IV) com uma tese sobre o pensamento de Schelling. Realizou o seu pós-doutoramento na Universidade de Lisboa em torno de um projecto sobre a relação entre o riso e a linguagem na filosofia de Nietzsche. Foi Professora Visitante em várias Universidades (Alemanha, Chile, Portugal, entre outras), tendo coordenado a área de investigação “Praxis” do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. É autora de uma extensa bibliografia, na qual se destaca o seu livro, Die Notwendigkeit des Scheiterns: Das Tragische als Bestimmung der Philosophie bei Schelling [A necessidade do fracasso: o trágico como determinação da filosofia em Schelling] na Alber Verlag (Freiburg), assim como a edição das obras Nietzsche, German Idealism and its Critics (em conjunto com Leonel Ribeiro dos Santos) na De Gruyter (Berlin) e Nietzsche and Kant on Aesthetics and Anthropology: Nietzsche’s Engagements with Kant and the Kantian Legacy (em conjunto com Maria João Branco) na Bloomsbury Academic Press (UK). As suas publicações mais recentes incluem: “On the Tragic-Sublime and Tragic Freedom: thinking with Schiller and Schelling”, in: volume nº 52 de Les Cahiers philosophiques de Strasbourg (2022): https://journals.openedition.org/cps/; e “On Nietzsche’s ‘Teachings’ about Learning to Laugh at Oneself – A Critical Approach”, in: Paul E. Kirkland e Michael J. McNeal (eds): Joy and Laughter in Nietzsche’s Philosophy, Bloomsbury 2022.

 Katia Hay is a Professor at the University of Amsterdam. She completed a cotutelle PhD in Philosophy in 2008 at the Universities, Ludwig-Maxmilians University (Munich) and Sorbonne University (Paris IV) with a thesis on Schelling’s thought. She did her post-doctorate at the University of Lisbon on a project about the relationship between laughter and language in Nietzsche’s philosophy. She has been a Visiting Professor at several Universities (in Germany, Chile, Portugal, among others) and has coordinated the “Praxis” research area at the Centre of Philosophy (University of Lisbon). She is the author of an extensive bibliography, including her book, Die Notwendigkeit des Scheiterns: Das Tragische als Bestimmung der Philosophie bei Schelling [The necessity of failure: the tragic as a determination of philosophy in Schelling] at Alber Verlag (Freiburg), as well as the edition of the works Nietzsche, German Idealism and its Critics (together with Leonel Ribeiro dos Santos) at De Gruyter (Berlin) and Nietzsche and Kant on Aesthetics and Anthropology: Nietzsche’s Engagements with Kant and the Kantian Legacy (together with Maria João Branco) at Bloomsbury Academic Press (UK). Her recent publications include: “On the Tragic-Sublime and Tragic Freedom: thinking with Schiller and Schelling”, in: volume nº 52 of Les Cahiers philosophiques de Strasbourg (2022): https://journals.openedition.org/cps/; and “On Nietzsche’s ‘Teachings’ about Learning to Laugh at Oneself – A Critical Approach”, in: Paul E. Kirkland  and Michael J. McNeal (eds): Joy and Laughter in Nietzsche’s Philosophy, Bloomsbury 2022

 

Helena Costa Carvalho

O horror sou eu diante das coisas: literatura, risco, pensamento | The horror is me in the face of things: literature, risk, thought

Na obra Filosofía y Poesía (1939), María Zambrano associa a criação poética a uma “ética do martírio”: diferentemente do filósofo, que elege uma “ética da segurança”, o poeta torna-se escravo da palavra e aceita o risco inerente ao seu labor, o de desaparecer face à presença excessiva das coisas. De facto, vários têm sido os poetas e escritores cujas obras nos dão a pensar a experiência da escrita a partir das noções de risco, medo ou horror. Auscultando vozes como as de Clarice Lispector, António Ramos Rosa ou Maurice Blanchot, procuraremos compreender o que está em causa nesse risco poético, bem como a experiência de pensamento que lhe está associada.

In the work Filosofía y Poesía (1939), María Zambrano associates poetic creation with an “ethics of martyrdom”: unlike the philosopher, who chooses an “ethics of security”, the poet becomes a slave of the word and accepts the risk inherent in his labor, that is of disappearing in the face of the excessive presence of things. In fact, there have been several poets and writers whose works make us think about the experience of writing based on notions of risk, fear or horror. Listening to voices such as those of Clarice Lispector, António Ramos Rosa or Maurice Blanchot, we will seek to understand what is at stake in this poetic risk, as well as the thought experience that is associated with it.

Bio

É doutorada em Estudos de Literatura e Cultura, especialidade de Estudos Portugueses, pela Universidade de Lisboa (2022), com uma tese sobre a obra de António Ramos Rosa, tendo usufruído de uma bolsa de doutoramento atribuída pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia. É licenciada em Filosofia pela Universidade de Coimbra (2005) e mestre em Filosofia pela Universidade de Lisboa (2013). É investigadora integrada do CLEPUL – Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

As suas principais áreas de investigação são a estética e a filosofia da arte-especialmente a filosofia da literatura — e a literatura contemporânea, dedicando-se a questões como a relação filosofia-literatura, o estatuto ontológico do texto literário e a relação poema-real.

 

José Quaresma

A função da imagem na reflexão estética de Carlos João Correia e a imersão óptico-háptico-proprioceptiva | The function of the image in the aesthetic reflection of Carlos João Correia and the optical-haptic-proprioceptive immersion.

A comunicação tem por objectivo demonstrar como a imagem artística, o mito e a narrativa literária são determinantes para a reflexão filosófica e estética de Carlos João Correia, constituindo-se como modalidades de reconfiguração simbólica da realidade, abrindo espaço para a envolver de maneira multi-perspéctica, e assim, como o Prof. Carlos João também afirma em determinadas passagens, podermos “pensar mais” em torno dessa mesma realidade. Como segundo objectivo,  justamente a partir deste “pensar mais” aberto pelos símbolos estéticos, defenderei a noção de “pensamento pictural”, que tanto se enraiza na plasticidade e nos símbolos concretos de uma obra, como numa aproximação à mesma que seja óptico-háptico-proprioceptiva.

The aim of this communication is to demonstrate how the artistic image, myth and literary narrative are decisive for Carlos João Correia’s philosophical and aesthetic reflection, constituting modalities of symbolic reconfiguration of reality, opening up space to involve it in a multi-perspectival way, and thus, as he also states in certain passages, being able to “think more” about that reality. As a second issue, precisely on the basis of this “thinking more” opened up by aesthetic symbols, I will defend the notion of “pictorial thinking”, which is rooted both in the plasticity of artistic symbols, and in an approach to it that is optic-haptic-proprioceptive.

Bio

Nasceu em Santarém, em 1965. Licenciou-se em Pintura pela ESBAL em 1996. Em 2001, realizou o Mestrado em Estética e Filosofia de Arte, pela FLUL, com a orientação do Prof. Associado Carlos João Correia. Em 2008, defende na mesma instituição a tese de Doutoramento orientada pela Prof.ª Associada Adriana Veríssimo Serrão. Em 2021 realizou as Provas de Agregação na Universidade de Lisboa área de pintura, especialidade de Gravura. Em 2022 realizou o Pós-doutoramento na área de Pintura, na FBAUP, com a supervisão do Prof. Catedrático António Quadros Ferreira. Atualmente é Professor Auxiliar com Agregação na área de Pintura, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Expõe pintura, desenho e gravura desde 1982. Tem coordenado projetos científicos e artísticos nos domínios da Investigação em Arte, Investigação Artística, Esfera Digital, Teoria da Imagem, Gravura e Instalação Gráfica, Pintura, Instalação Pictural, Arte Pública, Esfera Pública, Reprodutibilidade e Tecnologia, Património Cultural e Histórico do Chiado e do Carmo. Organiza com frequência exposições de Pintura, Gravura, Arte Pública, Instalação, outras. É director da Revista de Investigação Artística RIACT, sediada na FBAUL. É autor de 5 livros sobre Pintura no âmbito dos projectos de investigação A Pintura Contemporânea e o Barco de Teseu (entre 2015 e 2020), e ainda do projecto A Pintura Contemporânea e o rio do esquecimento (2020-2030), sediado na FBAUL. É autor de uma publicação sobre Investigação em Artes e Investigação Artística. Tem coordenado e co-coordenado dezenas de livros nas áreas acima indicadas. Tem coordenado muitos catálogos de exposições de arte. É autor de muitos capítulos em livros e tem organizado regularmente ciclos de conferências nacionais e internacionais sobre as áreas já mencionadas. Apresenta, desde 2003, um conjunto significativo de conferências e seminários, nos domínios atrás referidos. Tem sido orientador de dissertações de mestrado e de teses de doutoramento nas áreas da Pintura, Performance, Arte Pública, Instalação, Imagem, Gravura, entre outras. Participa regularmente nos painéis da Fundação para a Ciência e Tecnologia para a atribuição de bolsas de doutoramento.

 

Sofia Miguens

‘As Brillo Boxes podem revelar-nos a nós próprios tão bem como outra coisa qualquer’ – A questão do autoconhecimento em Stanley Cavell | ‘Brillo Boxes may reveal us to ourselves as well as anything might’ –Stanley Cavell on self-knowledge

Embora Stanley Cavell trate a questão do autoconhecimento de forma diferente da usual na filosofia analítica, esta é central na sua obra. Neste artigo começo por identificar brevemente a abordagem usual do autoconhecimento na filosofia analítica. Explicito em seguida as razões para o distanciamento de Cavell e reconduzo este a posições wittgensteinianas sobre acção e linguagem. São essas posições que levam Cavell a tratar o autoconhecimento não em torno de temas como o acesso privilegiado ou a incorrigibilidade de enunciados tais como ‘Estou a sentir dor’ mas sim em torno dos temas do cepticismo, do reconhecimento e da voz. Termino exemplificando o trabalho desses temas na abordagem da tragédia shakespeareana por Cavell.

Stanley Cavell’s approach to self-knowledge is unusual within analytic philosophy. Even so, the issue is central to his work. In this article, I begin by briefly characterizing the most common approach to self-knowledge in analytic philosophy and then identify Cavell’s reasons for taking distance from it, tracing them to his Wittgensteinian approach to action and language. Cavell is thus led to deal with self-knowledge centering not on privileged access or the incorrigibility of statements such as ‘I’m in pain’ but instead on the themes of skepticism, acknowledgment, and voice. I end by exemplifying the work done by such themes in his writings on Shakespearean tragedy.

Bio

Professora catedrática do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde ensina (sobretudo) epistemologia, filosofia da mente e da linguagem e filosofia contemporânea. É ainda Investigadora-Principal no Instituto de Filosofia da mesma universidade, onde dirige a linha temática de Filosofia Contemporânea e o Mind, Language and Action Group (MLAG), que fundou em 2005.  Foi Visiting Scholar na Universidade de Nova Iorque, no Instituto Jean Nicod – Paris e na Universidade de Sydney – Australia e Professor Visitante em Amiens e Paris. Foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Filosofia. Tem lecionado cursos e feito conferências em vários países, entre eles a Espanha, França, Alemanha, Áustria, Turquia, Suíça, Finlândia, Austrália, Polónia, Rússia, República Checa, entre outros. Foi Diretora do Departamento de Filosofia (FLUP) e do Instituto de Filosofia (FLUP), e directora da licenciatura em Filosofia e do Mestrado em Filosofia. É actualmente diretora do Programa de Doutoramento em Filosofia da FLUP. É autora de nove livros e mais de uma centena de artigos publicados em revistas da especialidade. Coordenou, entre outros, os seguintes volumes colectivos: Consciousness and Subjectivity (Ontos Verlag, 2012), Pre-Reflective Consciousness (Routledge 2015), Filosofia da Mente – Uma Antologia (UPorto Press 2020, com João Alberto Pinto e Diana Couto) e The Logical Alien (Harvard University Press, 2020). Recentemente publicou Arte Descomposta – Stanley Cavell, a estética e o futuro da filosofia (2022) e Filosofia Contemporânea – Figuras e movimentos (2023, 2a ed.).

Is a full professor at the Department of Philosophy of the Faculty of Arts at the University of Porto, where she primarily teaches epistemology, philosophy of mind and language, and contemporary philosophy. She is also a Principal Researcher at the Institute of Philosophy at the same university, where she leads the thematic line of Contemporary Philosophy and the Mind, Language, and Action Group (MLAG), which she founded in 2005. She has been a Visiting Scholar at New York University, the Jean Nicod Institute in Paris, and the University of Sydney in Australia, as well as a Visiting Professor in Amiens and Paris. She served as the President of the Portuguese Philosophical Society. She has taught courses and given lectures in various countries, including Spain, France, Germany, Austria, Turkey, Switzerland, Finland, Australia, Poland, Russia, the Czech Republic, among others. She has also held positions as the Director of the Department of Philosophy (FLUP) and the Institute of Philosophy (FLUP), and she was the director of the undergraduate and master’s programs in Philosophy. She is currently the director of the Doctoral Program in Philosophy at FLUP. She is the author of nine books and more than a hundred articles published in specialized journals. She has coordinated several collective volumes, including “Consciousness and Subjectivity” (Ontos Verlag, 2012), “Pre-Reflective Consciousness” (Routledge 2015), “Philosophy of Mind – An Anthology” (UPorto Press 2020, with João Alberto Pinto and Diana Couto), and “The Logical Alien” (Harvard University Press, 2020). She has recently published “Arte Descomposta – Stanley Cavell, a estética e o futuro da filosofia” (2022) and “Filosofia Contemporânea – Figuras e movimentos” (2023, 2nd edition).

 

Nelson Gonçalves Gomes

Positivismos e Religião | Positivisms and Religion

(1) A crítica do positivismo francês ao mito e à metafísica. Positivismo e religião. (2) A crítica neopositivista à metafísica, como discurso vazio. O mito como discurso significativo. (3) As críticas positivista e neopositivista à religião espiritualista. (4) Observações sobre tais críticas.

(1) The criticism of French positivism about myth and metaphysics. Positivism and religion. (2) The neopositivist criticism of metaphysics as a void use of language. The meaningfulness of myth. (3) Positivist and neopositivist criticisms of spiritualistic religion. (4) Observations about these criticisms.

Bio

Doutorado em filosofia pela Universidade de Munique (1975). Desde 1976, professor da Universidade de Brasília, na qual tornou-se professor titular (1993). Aposentou-se em 2013. Ensinou também na Universidade Católica de Santos (1967-9) e na Universidade de São Paulo (agosto  de 1991 – agosto 1992). Seus artigos concentram-se, em especial, em temas do neopositivismo. Em colaboração com docentes portugueses  (Prof. J. Branquinho e Prof. D. Murcho) editou a versão brasileira da Enciclopédia de Termos Lógico-Filosóficos (2006).

Holds a Ph.D. in philosophy from the University of Munich (1975). Since 1976, he has been a professor at the University of Brasília, where he became a full professor in 1993. He retired in 2013. He also taught at the Catholic University of Santos (1967-9) and at the University of São Paulo (August 1991 – August 1992). His articles primarily focus on topics related to neopositivism. In collaboration with Portuguese professors (Prof. J. Branquinho and Prof. D. Murcho), he edited the Brazilian version of the Encyclopedia of Logical-Philosophical Terms (2006).

Email: nelson.gomes235@gmail.com

José Miranda Justo

Usos da figura mitológica no âmbito da performance contemporânea (Hermes) | Uses of the Mythological Figure in the Context of Contemporary Performance (Hermes)

Ao longo de várias colaborações em acções performativas, todas elas envolvendo o uso de figuras mitológicas, fui desenvolvendo um conceito de performance que se deslocou da noção de «acção imagética» para um conceito mais explícito – e, porventura mais interventivo – de «performance contemporânea». A performance contemporânea, numa acepção possível, enquadra uma ou várias figuras de origem mitológica, combinando esse uso num objecto multimedial heterogéneo que, ao invés de sublinhar a complementaridade, totalidade e unidade dos factores e meios activos nos trabalhos performativos, insiste predominantemente nos desfasamentos, conflitos, destruições, abismos e névoas de objectos performáticos entendidos em devir inconcluso.

Throughout several collaborations in performative actions, all of them involving the use of mythological figures, I have been developing a concept of performance that has shifted from the notion of ‘imagistic action’ to a more explicit – and perhaps more interventionist – concept of ‘contemporary performance.’ Contemporary performance, in one possible interpretation, encompasses one or several figures of mythological origin, combining this use into a heterogeneous multimedia object that, instead of emphasizing the complementarity, totality, and unity of the factors and active means in performative works, predominantly insists on the disparities, conflicts, destructions, abysses, and mists of performative objects understood as an unfinished process.

Bio

PhD, University of Lisbon, 1990, with a dissertation on the History of Philosophy of Language. Associate Professor at the  Faculty of Humanities of the University of Lisbon. Member of the CFUL since its foundation. Publishes and lectures on the following areas: Philosophy of Language, Aesthetics and Philosophy of Art, Philosophy of History, Hermeneutics, History of Philosophy, Translation Studies.

 

Ana Rita Ferreira

Artivismo: práticas poéticas de cidadania
A minha apresentação centra-se no artivismo e na sua capacidade para criar espaços de empatia, liberdade e transformação social. Explorando alguns dos cruzamentos entre estética e a política, e tocando momentos chave da história da arte no que toca a obras politicamente empenhadas, traço de modo sucinto a genealogia de formas mais recentes de artivismo operantes na Ucrânia, para reflectir sobre o papel da sensibilidade artística em tempos de guerra.

My presentation focuses on artivism and its potential to engender spaces of empathy, freedom and social transformation. By exploring some intersections between aesthetics and politics, and delving into pivotal moments in the history of engaged art, I succinctly trace the genealogy of contemporary forms of artivism operating in Ukraine. Consequently, this analysis aims to shed light on the role that artistic sensitivity can play in the context of war.

Bio

Doutorada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com uma tese sobre a estética agostiniana (2012). É mestre em Estudos Curatoriais (2006) e licenciada em Pintura (2003) pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Entre 2015 e 2023, trabalhou como responsável por projetos artísticos no 22. juli-senteret em Oslo. Encontra-se desde outubro a trabalhar no Integrerings- og mangfoldsdirektoratet (Direção-Geral da Integração e Diversidade).

Received her Ph.D from the University of Lisbon in 2012, with a thesis on Saint Augustine’s Aesthetics. She holds a master’s degree in Curatorial Studies and a licentiate degree in Painting by the Faculty of Fine Arts of the University of Lisbon. Ferreira was the Head of Art Projects at the 22 July Centre in Oslo, between 2015 and Sep. 2023. She is currently working at the Norwegian Directorate of Integration and Diversity (IMDi).

 

Miguel Cereceda

Estética e Metafísica | Aesthetics and Metaphysics
Ao contrário da Metafísica, que é uma disciplina académica, que surgiu na escola de Aristóteles no séc. IV a. C., a Estética é uma disciplina verdadeiramente moderna. Não só moderna, mas ainda mais, aparentemente ligada aos destinos da Modernidade. Como se sabe, e apesar do nome grego, ao contrário da Ética, da Lógica ou da Metafísica, entre os gregos não havia nenhuma disciplina que pudesse levar o nome de Estética. De alguma forma, tal nome envolvia para os gregos uma espécie de contradição. Aristóteles diz claramente: “Das sensações, não consideramos nenhuma
como sabedoria, embora essas sejam as cognições mais autorizadas de objetos singulares; Bem, eles não dizem o porquê de nada; por exemplo, por que o fogo é quente, mas apenas que é quente” (Met I, 981b, 10). Que de acordo com isso haja para ele a possibilidade de uma ciência do sensível pareceria indubitavelmente uma contradição. A primeira referência que encontramos à Estética como disciplina filosófica não aparecerá até o séc. XVIII, em um contexto escolástico e eminentemente metafísico, na Aesthetica de Alexander Baumgarten, cujo primeiro volume apareceu em 1750. Mas minha intenção aqui não é estabelecer como a Estética tem uma raiz metafísica, algo que a tradição filosófica dá por certo, mas uma tese alternativa, segundo a qual a verdadeira metafísica se torna Estética na cultura contemporânea. Ou, o que é o mesmo, que a Estética não é apenas uma disciplina propriamente filosófica, mas que é a própria filosofia de nosso tempo: a verdadeira filosofia contemporânea.

Unlike Metaphysics, which is an academic discipline, which emerged in the school of Aristotle in the 4th century a. C., Aesthetics is a truly modern discipline. Not only modern, but even more so, apparently linked to the destinies of Modernity. As it is known, and despite the Greek name, unlike Ethics, Logic or Metaphysics, among the Greeks there was no discipline that could bear the name of Aesthetics. Somehow, such a name involved a kind of contradiction for the Greeks. Aristotle clearly says: “Of sensations we regard none as wisdom, although those are the most  authoritative cognitions of singular objects; Well, they do not tell the why of anything; for example, why fire is hot, but only that it is hot” (Met I, 981b, 10). That according to this there is for him the possibility of a science of the sensible would undoubtedly seem a contradiction. The first reference we find to Aesthetics as a philosophical discipline does not appear until the 18th century, in a scholastic and eminently metaphysical context, in Alexander Baumgarten's Aesthetica, whose first volume appeared in 1750. But my intention here is not to establish how Aesthetics has a metaphysical root, something that the philosophical tradition takes for granted, but rather an alternative thesis, according to which the true metaphysics becomes Aesthetics in contemporary  culture. Or, in other words, that Aesthetics is not just a strictly philosophical discipline, but that it is the very philosophy of our time: the real contemporary philosophy.

 

Elisabeth Sousa

A mitologia de Kierkegaard | The mythology of Kierkegaard

A comunicação abordará o uso muito próprio, da parte de Kierkegaard, de figuras da mitologia clássica, e o modo como algumas personagens literárias e bíblicas, e figuras históricas, em particular da história da Dinamarca, são recriadas com perfis de funcionamento em tudo análogo aos heróis e deuses da mitologia clássica, resultando esse todo no que eu designo por mitologia de Kierkegaard.

This paper will address Kierkegaard’s very own use of figures from classical mythology and the way in which some literary and biblical characters, and historical figures, in particular from the history of Denmark, are recreated with operating profiles that are completely analogous to those heroes and gods of classical mythology, thus resulting in what I call Kierkegaard’s mythology.

Bio

Doutorada em Teoria Literária, sobre a crítica musical como forma de arte na primeira metade do século XIX. Membro do CFUL desde 2007. Ex-bolseiro de pós-doutoramento no CFUL (2008-5). Membro da equipa do projeto de Tradução da obra de Kierkegaard (PTDC/FIL-FIL/100281/ 2008, concluído em 2013) e do recentemente lançado Experimentação e Dissidência (PTDC/FIL-FIL/1416/ 2014). Os seus interesses de investigação e muitas publicações abrangem Filosofia (foco em Kierkegaard), Estética (foco na Estética Musical e na relação com a Ética).

 

Vasti Roodt

Intimacy and its limits

Is Associate Professor in the Department of Philosophy and the Head of the Unit for Social and Political Ethics in the Centre for Applied Ethics. She studied at Stellenbosch and at Radboud University in the Netherlands, and holds a DPhil (Philosophy) from Stellenbosch University. Her research focuses on moral and political philosophy. She has published extensively on the work of Friedrich Nietzsche and Hannah Arendt, and has also written on identity politics, public happiness and conceptions of violence. She is co-editor of Nietzsche, Power and Politics: Rethinking Nietzsche’s Legacy for Political Thought (De Gruyter, 2008) and of the South African Journal of Philosophy special issue on happiness (Vol. 33 Nr. 4, 2014). Her most recent research focuses on the way in which metaphor and analogy shape – and distort – our reasoning about political concepts.

Professora Associada do Departamento de Filosofia e Coordenadora da Unidade de Ética Social e Política do Centro de Ética Aplicada da Universidade de Stellenbosch. Estudou nas Universidades de Stellenbosch e de Radboud, nos Países Baixos, e detém o grau de Doutora em Filosofia pela Universidade de Stellenbosch. A sua investigação centra-se na área da filosofia moral e política. Publicou abundantemente sobre a obra de Friedrich Nietzsche e Hannah Arendt e tem igualmente escrito sobre políticas de identidade, felicidade pública e concepções de violência. É co-editora de Nietzsche, Power and Politics: Rethinking Nietzsche’s Legacy for Political Thought (De Gruyter, 2008) e do South African Journal of Philosophy , número especial sobre a felicidade (Vol. 33 Nr. 4, 2014). A sua investigação mais recente centra-se no modo como a metáfora e a analogia moldam – e distorcem – o nosso raciocínio sobre conceitos políticos.

 

José Luís Câmara Leme

Emmanuel Levinas e a Exploração Espacial | Emmanuel Levinas and Space Exploration
Emmanuel Levinas foi um dos raros filósofos a reconhecer na exploração espacial um acontecimento crucial na história da civilização humana. O meu propósito é começar por apresentar os argumentos e enquadrar filosoficamente o artigo que ele publicou em 1961 intitulado ‘Heidegger, Gagarine e Nós’, para depois sustentar que esse artigo ganhou uma nova pertinência quando pensado em função do debate em torno do Antropocénico.

Emmanuel Levinas was one of the few philosophers to recognise space exploration as a crucial event in the history of human civilisation. My aim is to begin by presenting the argumentation and philosophical framework in the article he published in 1961, entitled ‘Heidegger, Gagarine and Us’, in order to argue that it gained a new relevance when thought in terms of the debate regarding the Anthropocene.

 

Bio

José Luís Câmara Leme é Presidente do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da FCT NOVA e membro do CIUCHT. Publicou sobre Michel Foucault, Hannah Arendt e Michael Oakeshott.

​José Luís Câmara Leme is Head of the Department of Applied Social Sciences at FCT NOVA and a member of CIUCHT. He has published on Michel Foucault, Hannah Arendt and Michael Oakeshott.

 

​​Soraya Nour Sckell

Construção de Si e Discriminação

The present talk discusses how law can satisfy demands for recognition of personal identity. First discussed are Honneth’s reflections on the role recognition plays in the construction of personal identity, reflections fueled by recent developments in psychology and psychoanalysis. This is followed by an analysis of the Honnethian model as it pertains to the intervention of law in the distribution of recognition. Unfortunately, Honneth’s “paradigmatic over-focusing” leads him to develop a normative theory based on “modern society” only. Nonetheless, by unveiling the intimate connection between legal theory and psychoanalysis, “recognition” as conceived of by Honneth proves a powerful theoretical tool for social critique.

 

A presente comunicação analisa a forma como o direito pode satisfazer as exigências de reconhecimento da identidade pessoal. Em primeiro lugar, são discutidas as reflexões de Honneth sobre o papel que o reconhecimento desempenha na construção da identidade pessoal, reflexões alimentadas por desenvolvimentos recentes na psicologia e na psicanálise. Segue-se uma análise do modelo honnethiano no que respeita à intervenção do direito na distribuição do reconhecimento. Infelizmente, o “excesso de enfoque paradigmático” de Honneth leva-o a desenvolver uma teoria normativa baseada apenas na “sociedade moderna”. No entanto, ao revelar a íntima ligação entre a teoria jurídica e a psicanálise, o “reconhecimento”, tal como concebido por Honneth, revela-se um poderoso instrumento teórico de crítica social.

Bio

Soraya Nour Sckell is an associate professor at NOVA School of Law, Universidade Nova de Lisboa. She is a researcher at CEDIS (NOVA School of Law). She was the Principal Investigator of the project “Cosmopolitanism: Justice, Democracy and Citizenship without Borders” (PTDC/FER-FIL/30686/2017, 2018-2022). She received the Franco-German Friendship Award (German Embassy in Paris) in 2012 and in 2018 she received the Wolfgang Kaupen-Preis Award for research in the sociology of law (German Society for Sociology, Sociology of Law Section,). She received her PhD in philosophy from the University Paris Nanterre and the Goethe University Frankfurt (2012, under the supervision of A. Honneth and Ch. Lazzeri) and in law from the University of Sao Paulo (1999, under the supervision of V. M. Rangel). She was director of the research program on cosmopolitanism at the Collège International de Philosophie in Paris (2013-2019) and is vice president of the Association Humboldt France.

Professora associada na NOVA School of Law, Universidade Nova de Lisboa. É investigadora no CEDIS (NOVA School of Law). Foi a Investigadora Principal do projeto “Cosmopolitanism: Justice, Democracy and Citizenship without Borders” (PTDC/FER-FIL/30686/2017, 2018-2022). Em 2012, recebeu o Prémio da Amizade Franco-Alemã (Embaixada da Alemanha em Paris) e, em 2018, recebeu o Prémio Wolfgang Kaupen-Preis pela sua investigação em sociologia do direito (Sociedade Alemã de Sociologia, Secção de Sociologia do Direito). Obteve o seu doutoramento em filosofia pela Universidade de Paris Nanterre e pela Universidade Goethe de Frankfurt (2012, sob a supervisão de A. Honneth e Ch. Lazzeri) e em direito pela Universidade de São Paulo (1999, sob a supervisão de V. M. Rangel). Foi diretora do programa de investigação sobre cosmopolitismo no Collège International de Philosophie em Paris (2013-2019) e é vice-presidente da Association Humboldt France.

 

Deepak Sarma

Is there an ordinary state of consciousness? | Haverá um estado vulgar da consciência?

In this short paper I intend to reflect on the very idea of an ordinary state of consciousness. I will do so by examining some references to consciousness in the Hindu and Indian philosophical context and from the new current conversation about consciousness and psychedelics. My intention is to problematize “ordinary,” altered” and “non-ordinary.”

Neste curto ensaio, pretendo reflectir sobre a própria noção de um estado comum da consciência. Fá-lo-ei examinando algumas referências à consciência no contexto filosófico hindu e indiano e a partir da nova discussão em curso sobre consciência e psicadelismo. A minha intenção é a de problematizar os conceitos de “comum”, “alterado” e “não-comum”.

Bio

Deepak Sarma is a Professor of Religious Studies at Case Western Reserve University, College of Arts and Sciences and a Professor of Bioethics at Case Western Reserve University, School of Medicine (secondary appointment). Vice President of the Grateful Dead Studies Association. Cultural Consultant at American Greetings and Moonbug. Curatorial Consultant at Cleveland Museum of Art’s Department of Asian Art. Sarma writes and researches about “Hinduism,” contemporary Hinduism, bioethics, Madhva Vedanta, Cultural Theory, post-colonial studies, and museology.  Deepak Sarma is the author of  An Introduction to Madhva Vedanta (Ashgate, 2003),  Epistemologies and the Limitations of Philosophical Inquiry: Doctrine in Madhva Vedanta    (Routeledge, 2005), and the the author/ editor of  Classical Indian Philosophy: A Reader (Columbia, University Press, 2011) and  Hinduism: A Reader (Wiley-Blackwell, 2008).

​Deepak Sarma é Professor de Estudos Religiosos na Case Western Reserve University, Faculdade de Artes e Ciências e Professor de Bioética na Case Western Reserve University, Faculdade de Medicina. Vice-presidente da Grateful Dead Studies Association. Consultor cultural na American Greetings e na Moonbug. Consultor curatorial no Departamento de Arte Asiática do Museu de Arte de Cleveland. Sarma escreve e investiga sobre “Hinduísmo”, Hinduísmo contemporâneo, bioética, Madhva Vedanta, Teoria Cultural, estudos pós-coloniais e museologia.  Deepak Sarma é autor de An Introduction to Madhva Vedanta (Ashgate, 2003), Epistemologies and the Limitations of Philosophical Inquiry: Doctrine in Madhva Vedanta (Routeledge, 2005), e autor/editor de Classical Indian Philosophy: A Reader (Columbia, University Press, 2011) e Hinduism: A Reader (Wiley-Blackwell, 2008).

 

Susana Oliveira

Uma amável sombra | A kind shadow
Serve o texto da ária ‘Ombra mai fu’ (do italiano, “Nunca houve uma sombra” ou,  literalmente, “sombra jamais foi”), uma das melodias mais conhecidas da ópera Xerxes de Georg  Friedrich Handel, como ponto de partida para pensar a sombra, essa projecção que é simultaneamente o momento de uma cessação de luz e o da configuração de uma imagem, que se traçou no início da narrativa central sobre a origem da pintura, com Plínio, e se inscreveu como presença na alegoria da origem da metafísica, com Platão.  Este monólogo de Xerxes, muitas vezes cantado fora do contexto da ópera, pode ser simplesmente entendido como um desejo exuberante por uma sombra refrescante no calor do dia ou como acerca da inquietação de Xerxes a que o plátano, a árvore que produz essa ‘amável sombra’, dá corpo e imagem.  Esta apresentação conta a pequena história ilustrada em torno dessas raras amáveis sombras.

The text of the aria ‘Ombra mai fu’ (from the Italian, “There was never a shadow” or, literally, “shadow never was”), one of the best-known melodies from Georg Friedrich Handel’s opera Xerxes, serves as a starting point for thinking the shadow, this projection that is simultaneously the moment of a cessation of light and the configuration of an image, which was traced at the beginning of the central narrative about the origin of painting, with Plínio, and was inscribed as a presence in the allegory of the origin of metaphysics, with Plato.
This monologue of Xerxes, often sung outside the context of the opera, can simply be understood as an exuberant desire for a refreshing shade in the heat of the day or as about Xerxes’s concern that the plane tree, the tree that produces this ‘kind shade’ ‘, gives body and image. Thus this presentation will attempt a small illustrated story around these rare lovely shadows

Bio

Professora Associada, Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa, da área de Desenho. Estudou Belas Artes, é mestre em Estética e Filosofia da Arte e doutorada em Comunicação e Cultura e publicou diversos artigos e livros sobre cultura visual. Co-organizou a 1ª Conferência Internacional de Arquitectura e Ficção – Once Upon a Place, Lisboa 2010, publicada em formato de livro em 2013, e foi co-proponente da rede Writing Urban Places. Foi Visiting Scholar na GSAPP – Columbia University NY em 2014, com investigação de pós-doutoramento em Imaginação Arquitetónica em Literatura de Ficção, disciplina que continua a desenvolver. Também trabalha como ilustradora freelance e publicou mais de 25 livros juvenis e infantis.

Associate Professor, Faculty of Fine Arts, University of Lisbon, in the area of Drawing. She studied Fine Arts, holds a Master’s degree in Aesthetics and Philosophy of Art and a PhD in Communication and Culture. She has published several articles and books on visual culture. She co-organized the 1st International Conference on Architecture and Fiction – Once Upon a Place, Lisbon 2010, published in book format in 2013, and was a co-proponent of the Writing Urban Places network. She was a Visiting Scholar at GSAPP – Columbia University NY in 2014, with post-doctoral research on Architectural Imagination in Fictional Literature, a field she continues to develop. She also works as a freelance illustrator and has published more than 25 youth and children’s books.

 

Tiago Sousa

Como pode o improvisador errar? A importância da noção de erro para a ontologia da improvisação musical | How can the improviser make mistakes? The importance of the notion of error for the ontology of musical improvisation

Poder-se-á dizer que a música improvisada se situa algo paradoxalmente entre o esperado inesperado e o inesperado esperado. Esperado inesperado porque se espera que o improvisador nos surpreenda a cada instante com a sua criatividade e poder de inovação. Inesperado esperado porque, se o improvisador for bem-sucedido, a sequência de notas escolhidas será sentida, surpreendente e encantadoramente, como a sequência “certeira” – como se tivesse de ser essa a combinação e não uma outra qualquer. Com efeito, uma das marcas fundamentais da apreciação de uma improvisação é a de que o ouvinte sabe que o que ouve está a ser composto enquanto é tocado e espera que o executante dê azo à sua espontaneidade durante o improviso. Assim, o nosso entendimento do que constitui um erro técnico, um defeito estético ou uma imperfeição artística na improvisação deverá ser contextualizado segundo as dimensões da imprevisibilidade e espontaneidade características desta forma de arte – dimensões estas que distinguem substancialmente a música improvisada da performance de uma obra previamente escrita. Nesta comunicação procurarei determinar o que poderá contar como uma falha numa improvisação, procurando através desta análise esclarecer algumas peculiaridades da ontologia da improvisação, em especial quando a contrapomos à ontologia das obras compostas para serem posteriormente executadas em várias performances.

One could argue that improvised music resides somewhat paradoxically between the expected unexpected and the unexpected expected. Expected unexpected because we anticipate the improviser to surprise us at every moment with their creativity and power of innovation. Unexpected expected because, if the improviser succeeds, the sequence of chosen notes will be felt as surprising and enchanting, as if it were the “right” sequence – as if it had to be that combination and not any other. In fact, a fundamental aspect of appreciating improvisation is knowing that what we hear is being composed as it is played, and we expect the performer to unleash their spontaneity during the improvisation. Therefore, our understanding of what constitutes a technical error, an aesthetic flaw, or an artistic imperfection in improvisation should be contextualized within the dimensions of unpredictability and spontaneity that characterize this art form – dimensions that substantially distinguish improvised music from the performance of a pre-written composition. In this presentation, I will attempt to determine what may be considered a failure in improvisation, aiming to clarify some peculiarities of the ontology of improvisation, especially when contrasted with the ontology of compositions intended for subsequent performances.

Bio

Tiago Sousa é professor de filosofia na Universidade do Minho. Licenciado e doutorado em Filosofia pela mesma universidade, fez o doutoramento na área da Estética Musical. É também licenciado e mestre em Música, com especialização em Guitarra Clássica. Fez também a licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e de Telecomunicações. Apresenta-se regularmente em público como concertista de guitarra clássica, a solo e em duo.

Tiago Sousa is a philosophy professor at the University of Minho. He holds a bachelor’s and a doctoral degree in Philosophy from the same university, with his doctoral research focusing on Musical Aesthetics. He is also a graduate and master’s degree holder in Music, with a specialization in Classical Guitar. Additionally, he completed a bachelor’s degree in Electrical and Telecommunications Engineering. He regularly performs as a classical guitar soloist and in duos in public concerts.

 

José Pedro Serra

Modelos de catábase no mundo antigo | Models of catabasis in the ancient world

Nesta comunicação, partindo dos exemplos das mais conhecidas catábases (Orfeu, Ulisses, Eneias…), procurar-se-á determinar quais os elementos mais significativos que constituem este movimento descendente e quais os diversos sentidos que podem revestir.

In this communication, based on the examples of the best-known catabasis (Orpheus, Ulysses, Aeneas…), we will try to determine the most significant elements that make up this downward movement and the different meanings they can have.

Bio

Licenciou-se em Filosofia, em 1980, na FLUL. No mesmo ano terminou o 5º ano do Curso de Teologia na U. Católica. Em 1989 obteve o grau de Mestre em Literatura Grega na FLUL e em 1999 obteve o grau de Doutor em Cultura Clássica na mesma Universidade. É professor catedrático no Departamento de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa.  Em 2006, publicou Pensar o Trágico (Lisboa, F. C. Gulbenkian; reeditado na Ed. Abysmo, 2018), obra a que foi atribuído o prémio do Pen Club 2007, na categoria de Ensaio. Recebeu também o prémio Jacinto do Prado Coelho da Associação Portuguesa dos Críticos Literários. É o Director da Biblioteca da FLUL.

Graduated in Philosophy from FLUL in 1980. In the same year he completed the 5th year of his Theology degree at the Catholic University. In 1989 he obtained a Master’s degree in Greek Literature from FLUL and in 1999 he obtained a PhD in Classical Culture from the same university. He is a full professor in the Department of Classical Studies at the University of Lisbon.  In 2006, he published Pensar o Trágico (Lisbon, F. C. Gulbenkian; reissued by Ed. Abysmo, 2018), which was awarded the 2007 Pen Club prize in the Essay category. He also received the Jacinto do Prado Coelho award from the Portuguese Association of Literary Critics. He is the Director of the FLUL Library.

 

Markus Gabriel

A Liberdade perigosa da arte | The Dangerous Freedom of Art

Na minha comunicação, começarei por apresentar as linhas gerais da minha ontologia da arte, ou seja, a minha resposta à pergunta: o que é a arte? Defenderei que a arte é essencialmente autónoma. A autonomia da arte não é, portanto, uma característica histórica, uma característica que de alguma forma adquiriu na modernidade e perdeu na pós-modernidade, como muitos teóricos da arte contemporânea defendem. Na segunda parte, mostrarei como a autonomia da arte a torna então perigosamente livre. A liberdade da arte ameaça tanto os artistas como os destinatários da arte. A arte é uma manifestação socialmente disruptiva, infinitamente poderosa, de pura liberdade, não limitada por qualquer parâmetro externo, como as esferas normativas morais, políticas, sociais ou económicas. Ninguém pode apropriar-se da essência da arte, do seu lado intangível e metafísico, e é por isso que a sua própria existência será sempre um espinho não só para os ditadores, mas também para as comunidades moralistas, para os movimentos sociais que tentam transformá-la num instrumento de progresso social, ou para os capitalistas que tentam transformar a arte numa mercadoria. Todas estas tentativas de domesticar o poder da arte, restringindo a sua liberdade, falham desesperadamente, por mais bem-intencionadas que sejam.

In my talk, I will first present the outlines of my ontology of art, that is, my answer to the question: what is art? I will argue that art is essentially autonomous. The autonomy of art is, thus, not a historical feature, a feature it somehow acquired in modernity and lost in postmodernity, as many theorists of contemporary art maintain. In the second part, I will show how the autonomy of art then makes it dangerously free. The freedom of art threatens both artists and recipients of art. Art is a socially disruptive, infinitely powerful manifestation of pure freedom, unbound by any external parameter, such as moral, political, social, or economic normative spheres. Nobody can own art’s essence, its intangible, metaphysical side which is why its very existence will always be a thorn in the side not just of dictators, but also of moralistic communities, social movements who try to turn it into an instrument of social progress, or of capitalists who try to turn art into a commodity. All these attempts at domesticating art’s power by restricting its freedom desperately fail however well-intended they might be.

Bio

Markus Gabriel é professor na Universidade de Bona. É Diretor do Centro Internacional de Filosofia. Foi Professor Visitante em várias universidades internacionais, como Sorbonne (Paris 1), PUC-Rio de janeiro, Universidade de Palermo, Universidade de Aarhus e Universidade de Lisboa, entre outras. Obteve o seu mestrado na Universidade de Bona e o seu doutoramento na Universidade de Heidelberg. As suas principais áreas de investigação são a Metafísica e a Epistemologia, o Idealismo Alemão, a Filosofia Continental dos séculos XIX e XX.

Markus Gabriel is Professor at the University of Bonn. He is the Director of the International Centre for Philosophy. He was Visiting Professor in several international universities, such as Sorbonne (Paris 1), PUC-Rio de Janeiro, University of Palermo, Aarhus University and the University of Lisbon, among others. He obtained his MA at the University of Bonn and his PhD at the University of Heidelberg. His main areas of research are Metaphysics and Epistemology, German Idealism, 19th and 20th Century Continental Philosophy.