Colóquio Engels: Bicentenário do nascimento
O Colóquio Engels: bicentenário de nascimento assinala o 200.º aniversário do nascimento de Friedrich Engels (1820-2020), figura incontornável – e cofundador – da teoria e prática que são conhecidas por Marxismo. O colóquio tem como objetivo, não apenas a efeméride, mas proporcionar o debate sobre a sua vida e obra.
Programa
– Colóquio Engels: bicentenário de nascimento
16 de novembro, segunda-feira
10h15-10h30
10h30-10h45 |
Recepção/credenciação
Rui Filipe (CFUL-Praxis) – Abertura (pela Comissão Organizadora)
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10h45-11h45 | 1.ª Mesa – FILOSOFIA I
Selma Totta (CFUL-HPhil) – Engels e o contributo cartesiano para o materialismo científico Luiz Eduardo Motta (Universidade Federal do Rio de Janeiro) – Engels e a Determinação em Última Instância
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11h45-12h00 | Intervalo |
12h00-13h00 |
2.ª Mesa – DIALÉCTICA Júlio Costa (ISCTE) – Uma dialéctica da qualidade e da quantidade focada na obra de arte Fábio Palácio & Cristiano Capovilla (Universidade Federal do Maranhão) – Engels e o “fim da filosofia”
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13h00-14h30 |
Almoço
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14h30-16h00 | 3.ª Mesa – MAIS-VALIA, COSMOPOLITISMO E RELIGIÃO
George Andre Borg (University of Pittsburgh) – Discovery and Instrumentation: How Surplus Knowledge Contributes to Progress in Science Tamara Caraus (CFUL-Praxis) – Engels’s critique of “bourgeois cosmopolitanism” and the prospects of a radical cosmopolitics Reihaneh Saremi (University of Tehran) – The religious mask of revolution: a study on Engels’ view on religion
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16h00-16h15 |
Intervalo
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16h15-17h15 | 4.ª Mesa – DIREITO E GUERRA
Miguel Almeida (Universidade de Coimbra) – Friedrich Engels: um precursor do Pensamento Jurídico Crítico Caio Bugiato (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) – Engels e a guerra
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17h15-17h30 |
Intervalo
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17h30-19h00 | 5.ª Mesa (Keynotes)
Jorge Velazquez Delgado (Universidad Autonoma Metropolitana-Iztapalapa) – Rodolfo Mondolfo: Materialismo, Humanismo e historicismo en la filosofía de Federico Engels À conversa com José Barata-Moura (Universidade de Lisboa) |
17 de novembro, terça-feira
10h15-11h15 | 6.ª Mesa – ECONOMIA
Mário Soares Neto (Universidade Federal da Bahia) – Friedrich Engels & A Crítica da Economia Política Carlos Hortmann (ISCTE) – Categorias: legado
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11h15-11h30 |
Intervalo
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11h30-13h00 | 7.ª Mesa – CIÊNCIA
Manuel Marques & Helena Bacelar-Nicolau (CFUL-HPhil) – Organismos, nomes, propriedades Paulo Cesar Duarte Paes (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) – O fundamento Engelsiano da Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski Mikhael Lemos Paiva (Universidade de Coimbra) – Friedrich Engels, Stephen Jay Gould e a influência engelsiana na Biologia do Século XX: o embate entre o Gradualismo Filético e o Equilíbrio Pontuado
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13h00-14h30 |
Almoço
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14h30-16h00 | 8.ª Mesa – FILOSOFIA II
Magnus Møller (Aarhus University) – Young Hegelianism in Engels’s Evaluation of Hegel and Feuerbach Daniel Herbert (University of Sheffield) – Engels, Sartre, and Historical Materialism Luis Felipe Bartolo Alegre (Universidad Nacional Mayor de San Marcos) – Engels and the Principle of (Non) Contradiction
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16h00-16h15 |
Intervalo
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16h15-17h15 | 9.ª Mesa – ENGELS & MARX
Cristopher Morales Bonilla (Universidad de La Laguna) – ¿Marxismo o Engelsismo? Sara Totta (CFUL-HPhil) – Seria Engels um “engelsiano”? Da comunhão filosófica entre Marx e Engels
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17h15-17h30 |
Intervalo
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17h30-18h30 | 10.ª Mesa (Keynote)
João Quartim de Moraes (Unicamp) – O trabalho na dialética da natureza |
Keynote:
João Quartim de Moraes
Professor titular aposentado, colaborador da Pós Graduação, do Departamento de Filosofia, IFCH, Unicamp
Título:
O trabalho na dialética da natureza
Resumo:
Autores anti naturalistas, que pretendem encapsular o marxismo no âmbito das relações intersubjetivas, procuram desqualificar a original e decisiva contribuição de Engels à dialética da natureza. Não obstante, alguns dos mais eminentes cientistas e pensadores contemporâneos têm reconhecido a extraordinária importância de sua explicação evolucionista da autoprodução do homem pela tese de que a mão não é apenas o órgão do trabalho, mas também o produto dele. Discutimos também a assimilação crítica do darwinismo pelo pensamento evolucionista de Engels e de Marx.
Abstract:
Anti-naturalist authors, who intend to encapsulate Marxism in the context of intersubjective relations, seek to disqualify Engels’ original and decisive contribution to the dialectics of nature. Nevertheless, some of the most eminent contemporary scientists and thinkers have recognized the extraordinary importance of his evolutionary explanation of man’s self-production by the thesis that the hand is not only the organ of the work, but also the product of it. We also discuss the critical assimilation of Darwinism by Engels’ and Marx’s evolutionary thought.
Palavras chave:
Engels, darwinismo, mãos, cérebro
Key words:
Engels, darwinism, hands, brain
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Keynote:
José Barata-Moura
Professor catedrático jubilado e emérito da Universidade de Lisboa
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Keynote:
Jorge Velazquez Delgado
Professor na Universidad Autonoma Metropolitana-Iztapalapa, México
Título:
Rodolfo Mondolfo: Materialismo, Humanismo e historicismo en la filosofía de Federico Engels.
Resumo:
Tal vez como pocos filósofos las aportaciones del filósofo italiano transterrado en Argentina a causa del arribo del fascismo italiano, las aportaciones al estudio y comprensión del marxismo como filosofía de la praxis y como Humanismo real, resultan ser invaluables. sin embargo, resulta ser que por diversas razones y motivos este pensador forma parte del marxismo olvidado. De hecho, fue un gran lector y crítico de ciertos marxismo que formaron parte del apasionante debate de finales del siglo XIX y del siglo XX. Polemista agudo que como profesor de Antonio Gramsci, discute sus tesis desde su particular comprensión del marxismo crítico. Lo que se busca en esta oportunidad es recuperar su legado sobre todo a partir de su interesante lectura crítica del marxismo de Federico Engels.
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Caio Bugiato
Professor de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ – Brasil.
Coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Relações Internacionais da UFRRJ.
Pós-doutorando em Sociologia na Universidade de São Paulo/USP.
Doutor e mestre em Ciência Política na Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP.
Graduado em Relações Internacionais na Universidade Estadual Paulista/UNESP.
Título:
Engels e a guerra
O processo de industrialização no continente europeu repercutiu também na infraestrutura militar das principais potências da região. Particularmente, as inovações industriais reverberaram de maneira significativa no terreno da engenharia militar e no progresso dos armamentos e das fortificações. Fato pouco conhecido entre os estudiosos de temas militares – e até entre os marxistas – é que Friedrich Engels foi um dos pioneiros na avaliação do impacto destas inovações na organização dos exércitos da Europa na segunda metade do século XIX. Nesse sentido, é importante mencionar sua obra (publicada anonimamente em 1859) O Pó e o Reno, em que entende as ações e organizações militares como fenômenos conectados a relações mais profundas e determinantes: às dinâmicas da acumulação de capital e da luta de classes, o que inclui processos revolucionários. Escolhido para redação de parte dos verbetes sobre questões militares da The New American Cyclopaedia (e tendo auxiliado Marx a escrever artigos para o jornal nova-iorquino New York Daily Tribune sobre as guerras na Europa – fato desconhecido à época), sua capacidade de analista militar atravessou fronteiras e oceanos. Sendo assim, o objetivo desse trabalho teórico é, mediante uma pesquisa bibliográfica na obra de Marx e Engels, resgatar, sistematizar e apresentar como um corpo conceitual coerente as reflexões do General (como Engels era conhecido em alguns meios do movimento socialista europeu) fundado na relação do fenômeno da guerra com o materialismo histórico. Essa sistematização nos serve de ponto de partida para entendimento e análise (e talvez para uma teoria marxista da guerra) dos conflitos bélicos do passado e da atualidade, no século XXI em que tais conflitos são tão recorrentes como em outros períodos da história e que pode presenciar mais uma guerra mundial.
Palavras-chave:
Engels; Teoria; Guerra
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Carlos Hortmann
Carlos Augusto Hortmann Fagundes, filósofo político e músico; doutorando em história moderna e contemporânea pelo ISCTE.
Título:
A situação da classe trabalhadora na Inglaterra: legado e atualidade
Resumo:
O objetivo central dessa exposição é o de sinalizar a importância história e a atualidade da obra, A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. No que tange ao valor desse trabalho (metodológico) historiográfico e sociológico levado a cabo por Engels, destaca-se no sentido de que o mesmo faz uma análise concreta e abrangente da classe trabalhadora inglesa. Do ponto de vista da atualidade da obra, nada mais didático do que uma pandemia para agudizar a crise estrutural do sistema do capital, que coloca os/as trabalhadores/as sob um fogo cruzado, em que o aumento exponencial do exército de reserva e o papel do trabalho imigrante (como forma de apropriação de mais valor pela burguesia) manifestar-se como elementos determinantes da atual conjuntura. Ou seja, propiciando um enfraquecimento dos/as trabalhadores/as enquanto classe em movimento (para-si) e incapaz de resistir aos avanços da exploração do capital. O legado desse livro, para além da sua qualidade literária, segundo Hobsbawm, caminho em dois sentidos. O primeiro deles é que essa obra tornou-se um marco na história do capitalismo, visto que a originalidade, resultados das apropriações teóricas, experiencial e documental de Engels durante os dois anos que permaneceu na Inglaterra, colocou em evidência a centralidade da Revolução Industrial e, de que a superação da questão social só aconteceria por meio de uma mudança no modo de relação social (até hoje vigente) e do papel ativo do sujeito revolucionário (classe trabalhadora) no movimento de superação da sociedade capitalista. Noutro sentido, essa obra permite observar o processo de desenvolvimento teórico de Engels e a sua contribuição na aproximação efetiva de Marx da economia política, uma vez que o autor já tinha escrito um Esboço e na referida obra o mesmo procura sumariar e estruturar muitas das suas ideias em relação as categorias da economia política.
Palavras-chaves:
classe trabalhadora; economia política; atualidade de Engels; colaboração com Marx; legado;
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Cristopher Morales Bonilla
Universidad de La Laguna
Cristopher Morales hizo sus estudios de Licenciatura en Filosofía en la Universidad de La Laguna. Posteriormente, se trasladó a Berlín para comenzar sus estudios de doctorado en la Technische Universität bajo la tutela del Prof. Thomas Gil. Posteriormente, se trasladó a Barcelona para cursar un Máster de Pensamiento Contemporáneo y para terminar su tesis sobre la Internacional Situacionista bajo la dirección del Prof. Santiago López Petit. En Noviembre de 2013 defendió dicha tesis doctoral, obteniendo con ella la Mención Europea para su doctorado.
Desde entonces, ha venido trabajando en la reformulación de la teoría de la emancipación, especialmente en campos como el postmarxismo, la biopolítica, el postoperaísmo y la aportación de las vanguardias artísticas al campo de la teoría política. Además, ha publicado numerosos artículos y reseñas en revistas como Isegoría, Daimon, Laguna, Astrolabio o Foro Interno. Además, trabaja como traductor freelance para diversas editoriales y empresas privadas.
Título:
¿Marxismo o Engelsismo?
Resumo:
La historiografía clásica ha establecido a lo largo del siglo XX que el marxismo es el conjunto de conceptos estructurales de la crítica de la economía política de Karl Marx en relación a su crítica del modo de producción capitalista. Sin embargo, los últimos descubrimientos textuales, especialmente la publicación de las obras completas conocidas como MEGA2, revelan que el problema es mucho más complejo. Dichos descubrimientos filológicos demuestran que lo que hoy entendemos como “marxismo” proviene principalmente de dos fuentes: por un lado, de la edición de las diferentes versiones de Das Kapital hechas por Engels y de la interpretación que hace este de ciertos conceptos de Marx en el Anti-Dühring y en la Dialektik der Natur.
Ambos procesos están íntimamente conectados, en el sentido de que la preparación, edición y publicación del conjunto de materiales que Marx dejó como legado están determinados por el desarrollo filosófico del propio Engels. Más en concreto, esta interpretación de Marx está determinada por dos ejes. En primer lugar, la eliminación del componente específicamente filosófico de la dialéctica hegeliana de la unidad de la doctrina de Marx y, en segundo lugar, la construcción de un concepto de ciencia que diera el carácter verdaderamente científico a la nueva doctrina del cambio social.
Este giro positivista de la doctrina de Marx es el elemento clave que puede explicar el desarrollo de la actividad práctica de la socialdemocracia alemana desde los años 1880. La influencia de esta interpretación se refleja en varios elementos doctrinales de dicha práctica política: una filosofía de la historia que entiende como inevitable el colapso y crisis del capitalismo; la necesidad de una actividad no revolucionaria en el sentido de uso de la violencia para la transformación social; crítica del izquierdismo como fe ingenua en la posibilidad revolucionaria fuera de la objetividad social.
De este modo, el marxismo se presentaría más bien como una especie de “engelsismo”, en el sentido de que lo que entendemos por aquel es una interpretación muy determinada y contextual de ciertos conceptos desarrollados por Marx. Por lo tanto, a la luz de esta afirmación sería posible afrontar una pregunta: ¿es posible construir un verdadero “marxianismo”, en el sentido de una unidad teórica que pudiera dar cuenta de aquellos elementos eliminados por Engels?
Palabras clave:
Engels, Marxismo, Marx, Ciencia, Dialéctica
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Cristiano Capovilla & Fábio Palácio de Azevedo
Cristiano Capovilla – Universidade Federal do Maranhão
Professor do Colégio Universitário da Universidade Federal do Maranhão (Colun/UFMA). Graduado em Filosofia e especialista em Ética pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Doutorando em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Fábio Palácio de Azevedo – Universidade Federal do Maranhão
Jornalista, professor adjunto C do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão, onde ministra as disciplinas “Lógica e Retórica” e “Epistemologia do Jornalismo”. Graduado em Comunicação Social (UFMA). Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP). Doutor em Ciências da Comunicação (ECA/USP), com estágio doutoral na University of Reading (Reino Unido). Pesquisador e membro do Conselho Diretor nacional da Fundação Maurício Grabois; presidente da Fundação Maurício Grabois – Maranhão.
Título:
Engels e o “fim da filosofia”
Resumo:
Na obra Ludwig Feuarbach e o fim da filosofia clássica alemã (1888), Engels discorre sobre o fim de “toda a filosofia no sentido da palavra até aqui”. Com Hegel, afirma, “remata-se, em geral, a filosofia; por um lado, porque ele reuniu todo o desenvolvimento dela no seu sistema, da maneira mais grandiosa; por outro lado, porque […] ele nos mostra o caminho [que nos leva] deste labirinto dos sistemas ao conhecimento positivo real do mundo”.
Em muitas passagens dessa obra há críticas aos cânones da filosofia. Na visão do último Engels, os sistemas filosóficos passam a ser interpretados a partir de nova chave, a qual compreende as oposições filosofia versus ciências particulares, metafísica versus dialética, idealismo versus materialismo. A filosofia tradicional, metafísica e idealista, assume assim um conteúdo de irrealidade e anticientificidade.
Para o lugar dela, Engels propõe uma investigação propriamente científica, mais afeita à positividade das ciências particulares – economia, física, matemática –, cuja abordagem estaria mais próxima da ontologia materialista. Sua crítica dialética do método metafísico se tornaria exemplo da nova atitude que o socialismo científico passaria a encarnar diante da filosofia.
Em certo sentido, a argumentação de Engels já se encontrava presente no Anti-Dühring e em Do socialismo utópico ao socialismo científico, ambos de 1878. Nessas obras, percebe-se a tentativa de preencher uma lacuna deixada por Marx, que nunca se ocupou de uma exposição sistemática de seu método histórico.
A proposta apresentada no Ludwig Feuarbach é complexa e envolve muitos aspectos teóricos e conceituais. Tratava-se, ao fim e ao cabo, de responder a questão crucial acerca da herança hegeliana. Engels enfrentou esse desafio com uma formulação que se tornaria célebre na história do marxismo: a do problema fundamental da filosofia, sintetizado na relação entre ser e pensar.
Com base nessa abordagem, ele revisitou questões relacionadas à gênese do marxismo, pontuando especialmente os papeis de Hegel e Feuerbach. Avaliamos que o problema da retenção da dialética no seio do materialismo é a chave para pensar os acertos e limites da proposta engelsiana.
Palavra-chave:
Filosofia. Ciência. Dialética. Materialismo. Engels.
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Daniel R. Herbert
University of Sheffield
Dr. Daniel R. Herbert was awarded his PhD in 2010 for doctoral research conducted at the University of Sheffield, Department of Philosophy. He has publications concerning a number of figures from the history of philosophy including Kant, Hegel, Marx and Sartre, and has held positions at the University of Sheffield and Universidad Autónoma del Estado de Puebla. He has spoken at conferences in the UK, Germany, the Republic of Ireland, Mexico, the USA and Italy, and has research interests in the history of philosophy and social and political thought.
Título:
Engels, Sartre, and Historical Materialism
It shall be the intention of this presentation to evaluate Engels’s significance for Sartre’s later philosophy. In his September 1890 letter to Bloch, Engels would repeat what he had earlier maintained in The Origin of the Family, Private Property and the State – that, according to the materialist conception of history, it is the factors conditioning the production and reproduction of immediate life which are “in the last instance” the determining factor of history. That such a position is intended not to imply a crude economic determinism is apparent from Engels’s explicit mention of non-economic factors at work in the historical process and his assertion that “[w]e ourselves make our own history, but, first all, under very definite presuppositions and conditions”. As Sartre remarks in his Search for a Method, however, Engels’s position remains unclear in spite of his explanatory comments, and the historical materialist understanding of the relation between economic and non-economic factors in the explanation of historical events is therefore a matter of controversy.
It is this part of Engels’s legacy, in particular, which motivates Sartre’s efforts, in his mammoth Critique of Dialectical Reason, to understand historical materialism in such a manner as to explicate the nature of economically conditioned human agency in making history. Sartre departs, however, from straightforward interpretation of Engels and classical Marxism by insisting upon the irreducibility of a subjective dimension in all human practices. Hence it is here that Sartre’s heterodox proposal to compliment classical Marxism with existential phenomenology is most strikingly on display. This presentation shall address the tenability of Sartre’s proposal, concluding that this cannot be accepted without substantial revision to Engels’s understanding of historical materialism as a scientific theory comparable to the discoveries of Newton and Darwin. As such, the scientific credentials of historical materialism must be differently understood for Sartre.
Keywords:
Engels, Sartre, Historical Materialism, classical Marxism, economic determinism.
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George Borg
Department of History and Philosophy of Science
University of Pittsburgh
I am a doctoral candidate in history and philosophy of science, preparing to defend a dissertation on Science, labor and scientific progress which owes a huge debt to the thought of Marx and Engels.
Título:
Discovery and Instrumentation: How Surplus Knowledge Contributes to Progress in Science
Abstract:
Drawing on the ideas of Marx, Engels, and more recent historical materialists, I will provide an explanation of scientific progress by relating science to the more general practice of laboring. An important fact about human labor is that it can result not just in reproduction of what it started with, but in something new, a surplus product. When the latter is a means of production, it makes possible a mechanism of change consisting of reproduction by means of the expanded means of production. “Means of production” must here be understood in a broad sense, to include not just tools in a narrow sense, but also material means of representation and communication (Lefèvre 2005). Each iteration of the labor process can differ from the preceding one insofar as it incorporates the surplus generated previously. Over the long-term, this cyclical process can lead to the self-transformation of labor and, through it, of human societies and cultures.
In this paper, I will provide a largely theoretical argument that this mechanism of change is also at work in the history of science. More specifically, the thesis I will defend in this paper is that surplus knowledge contributes to progress in science. The basic argument is this. Labor makes progress by producing surplus use-values (objects of utility). Science makes progress as does the labor process, except that the specific use-value that it produces is knowledge. Therefore, science makes progress by producing surplus knowledge.
The paper is structured as follows. In section 2, I argue that the form taken in science by the mechanism of reproduction by means of the expanded means of production is that of a feedback loop between discovery and instrument construction. This process requires the integration, and transformation into material form, of different kinds of knowledge. In section 3, I argue that this process suggests a concept of scientific progress complementary to those that have so far been advanced in the philosophical literature on scientific progress, and defend the concept of progress as transcendence of the limitations of native human epistemic ability. In section 4, I criticize narrowly biologistic approaches to the history of science for ignoring the role of surplus generation in transforming the labor process, and discuss some problems associated with viewing science as labor. I offer concluding remarks in section 5.
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Júlio F. R. Costa
Licenciado em Filosofia pela FLUL, Mestre em Mercados da Arte pelo ISCTE.
Tem escrito e publicado artigos no âmbito de uma filosofia em torno do mercado da arte contemporâneo, nomeadamente, acerca da obra de arte enquanto mercadoria e da posição do artista no mundo da arte hodierno. Para além de sua formação académica e contínua produção nessas áreas, tem vindo a desenvolver actividades enquanto artista visual, nomeadamente, no experimentalismo de vídeo. Tem participado em festivais nacionais e internacionais, bem como em exposições de vertentes mais plásticas. O seu primeiro romance “Retalhos da Vida de Eduardo Lopo” foi publicado em 2019.
Título:
Uma dialéctica da qualidade e da quantidade focada na obra de arte
Resumo:
Tomando como ponto de partida a obra “Anti-Dühring”, de Friedrich Engels, e as linhas nela traçadas em torno da dialéctica em geral e acerca da dialéctica da quantidade e da qualidade em particular, pretendemos pensar a obra de arte nas diferentes perspectivas da qualidade e da quantidade, nas suas unidades e contradições.
Tanto na Natureza, como na economia, como em qualquer elemento do real, por vezes, a quantidade converte-se em qualidade, e vice-versa. Duas moléculas podem tem os mesmos átomos (qualitativamente), porém, por uma diferença quantitativa desses mesmos atómos, são compostos de diferentes determinações e efeitos práticos particulares dessa organização molecular. A divisão do trabalho também é exemplo de como uma alteração na quantidade (por exemplo: número de trabalhadores) altera a qualidade (por exemplo: a eficiência da produção).
Focando a reflexão na obra de arte, partindo das considerações gerais do texto de Engels (auxiliados por Marx e também por Hegel), exploramos as várias perspectivas da quantidade (preço da obra, tempo empreendido, número de obras, etc.) e da qualidade (determinações estéticas, assinatura, arte conceptual, conteúdos, etc.) nas suas várias relações dialécticas, com o objectivo de pensar a posição da obra de arte no mundo/mercado da arte contemporâneo. Pensemos na influência que a assinatura de certo artista (qualidade) tem na atribuição de valor financeiro (quantidade) à obra; ou, seguindo um raciocínio em jeitos de Walter Benjamin, como a produção em massa de obras de arte (quantidade) altera a forma como a obra é percebida (qualidade). Não obstante a generalidade da questão, e o caminho seguido estar dependente da perspectiva que se toma, é através das diferentes acepções destas categorias, e das suas formas fenoménicas, que pretendemos enriquecer a nossa reflexão.
Esquema provisório da intervenção: 1. Introdução: considerações acerca da dialéctica; 2. Qualidade; 3. Quantidade; 4. Dialéctica da qualidade e da quantidade; 5. Conclusão: considerações em torno da obra de arte na contemporaneidade.
Autores abordados: Engels, Marx, Hegel, Aristóteles, Benjamin, Badiou, Danto, Raymonde Moulin, Yves Michaud, Hannah Arendt, Francesco Poli
Palavras-chave:
dialéctica, quantidade, qualidade, arte.
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Luis Felipe Bartolo Alegre
Universidad Nacional Mayor de San Marcos (Lima, Perú)
Luis F. Bartolo Alegre é Mestre em Filosofia cum laude em Epistemologia do Peru. As suas principais áreas de investigação são teoria da ciência, lógica, teoria da argumentação e epistemologia. A sua investigação actual centra-se na manipulação de informação inconsistente, especialmente no caso de teorias empíricas inconsistentes.
Biographical note: Luis F. Bartolo Alegre is a Master of Philosophy cum laude in Epistemology from Peru. His main areas of research are theory of science, logic, argumentation theory, and epistemology. His current research is focused in the handling of inconsistent information, specially for the case of inconsistent empirical theories.
Título:
Engels and the Principle of (Non) Contradiction
It is often said that Engels’ distinctive contribution to Marxism (and perhaps to Philosophy) is his systematisation of Marxist philosophy, which was strongly influenced by dialectics and materialism (cf. McLellan 1978: ch. IV). Engels has often defended the acceptability of some contradictions, like when he argues that mechanical movement “can only occur when a body is [both] in one and the same place and not in it” (1975: 141-2). In this sense, Engels is against equating the concepts of contradiction (Widerspruch) and nonsense (Widersinn).
Some distinguished Marxist thinkers (explicitly or silently) did not subscribed this understanding of contradictions, like Lenin (1947), who pejoratively uses the concept of contradiction for criticising his adversaries, or Sacristán, in his severe criticism to the Anti-Dühring (1968). Nevertheless, Engels’ understanding of the concept of contradiction has indisputably left a mark in Marxist thought, expressed in a very ambiguous use of the term and even in the development of a dialectical logic that is opposed to formal logic (Bogomolov et al 1975). Moreover, Grant and Woods have interpreted Heisenberg’s principle as implying that an unobserved particle is and is not both a proton and a neutron at the same time (2002-2003: 92), and that this is somehow evidence that formal logic can “express the real world only within quite narrow limits” (2002-2003: 78).
If this interpretation of Engel’s ideas is adequate, then it would follow than he was against the logical principle of non contradiction. In this talk I will discuss the plausibility of this hypothesis and how Engel’s ideas may be related with proposals by formal logicians to remove or restrict the principle of non contradiction (cf. da Costa 1994; Priest 1987; Routley and Meyer 1976).
Keywords:
dialectical logic, formal logic, inconsistency
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Luiz Eduardo Motta
Professor Associado de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em Sociologia pelo IUPERJ, e Mestre em Sociologia pelo IFCS-UFRJ. Autor do livro A Favor de Althusser (FAPERJ/Gramma), e de diversos artigos sobre o pensamento marxista, especialmente sobre o pensamento de Louis Althusser, Nicos Poulantzas e Mao Zedong, e sobre o pensamento social-político brasileiro, em destaque a obra de Guerreiro Ramos.
Título:
Engels e a Determinação em Última Instância
O presente artigo busca resgatar a importância de Engels no campo teórico, no tocante à sua contribuição à problemática que implode com o argumento de que a sua obra seria marcada por uma tendência mecanicista, e simplória, no tocante aos processos sociais. Trata-se da questão da última instância do econômico, demarcada pelo Engels maduro, e o seu desdobramento em relação à autonomia relativa das estruturas e do papel do acaso, demonstrando assim, que longe de ser um autor mecanicista e meramente determinista, o legado de Engels abre espaço para refletirmos sobre o complexo e contraditório processo histórico onde as incertezas convivem com a pluralidade de determinações. Na primeira parte será tratada a defesa de Sebastiano Timpanaro à contribuição de Engels ao marxismo, e de sua crítica ao antropocentrismo. Os argumentos de Timpanaro vão de encontro aos críticos de Engels que o acusam de determinista e de tecnicista, notadamente Leszek Kolakowski cuja perspectiva calcada no humanismo teórico trata a obra de Engels como diametralmente oposta a de Marx. Na segunda parte será analisada diretamente essa contribuição de Engels nos seus últimos escritos, notadamente Ludwig Feurbach e o fim da filosofia clássica alemão e as cartas dirigidas a Conrad Schmidt, a Joseph Bloch e a W. Borgius. Veremos, assim, a contribuição de Engels no tocante a autonomia relativa das estruturas e de suas diferentes temporalidades, e a questão do acaso e da pluralidade de determinações.
Palavras chaves: Engels, Timpanaro, múltiplas determinações, acaso
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Magnus Møller Ziegler
Aarhus University, Denmark.
B.A. (2013), M.A. (2016) in philosophy from the university of Copenhagen. My main research interest is the philosophical, cultural, and political reception of Hegel and the political thought of the Hegelians. My M.A. thesis was on Engels, and my doctoral research is on Young Hegelian continuities in Karl Marx’s Capital.
Título:
Young Hegelianism in Engels’s Evaluation of Hegel and Feuerbach
Abstract:
In 1886, Friedrich Engels published the article “Ludwig Feuerbach und der Ausgang der klassischen deutschen Philosophie” in two instalments in the German socialist journal Die Neue Zeit. Two years later, it was published as a brochure with minimal changes. Nominally, the occasion was the publication in German of the Danish historian of philosophy C. N. Starcke’s 1885 Habilitationsschrift on Feuerbach, but the wider context was a general resurgence of interest in Feuerbach in the German labour movement.
In this paper, I argue that this context is important for understanding Engels’s intention with the text: he is interested in portraying Feuerbach as passé; as a stage in the development of human consciousnesses that has been surpassed by Marxism. In order to do this, I argue, Engels situates Feuerbach within a wider evaluation of Hegel and Hegelianism as such, and he employs a typically Young Hegelian understanding of the Hegelian notion of active reality (Wirklichkeit) as well as the distinction between essence and appearance. In the Young Hegelian understanding, the appearance of a phenomenon that does not correspond to its essence is not simply false or unreal (unwirkliches) but equally something that most actively be destroyed by another, more advanced and truer appearance.
Marxism is portrayed by Engels as the realisation of human understanding since it is the highest and most perfect form of materialism, which Engels in turn is the true core (or essence) of philosophy. Marxism the realisation of philosophy and the transition into a higher sphere of human understanding, and Feuerbach has not simply been subsumed under Marx, as per a traditional Hegelian understanding of Aufhebung, but destroyed. This is, I argue, the proper context for understanding what Engels means by the ‘Ausgang’ of German philosophy.
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Manuel Marques & Helena Bacelar-Nicolau
Manuel Silvério Marques. Médico hematologista do IPOFG, aposentado. Doutoramento em Filosofia da Medicina (FML) (2002). Co-organizador e membro da Comissão de Ética do IPOFG, da Unidade de Cuidados Hematológicos Intensivos (Dir. Jorge de Melo, 1989) e das cadeiras de Arte Médica I e II da Universidade da Beira Interior (com Jorge de Melo e José Manuel Pereira de Almeida; 2001). Foi docente convidado da UBI e da FMUL. Membro da redacção de Análise, do Gabinete de Filosofia do Conhecimento (1986-2006; Dir. Fernando Gil). Membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (1998-2002). Dirigiu vários projectos de investigação, designadamente da obra do médico iluminista “José Pinto de Azeredo (1764-1810).Textos e Contextos” (2012-2014 – 4 volumes publicados, último em 2020). Participou no projecto “Medicina Narrativa: (con)textos e práticas multidisciplinares ((2013-2015; Dir. Isabel Fernandes, CEAUL) – iniciativa internacional na área das Humanidades Médicas. Continua a trabalhar e publicar nas áreas de Humanidades Médicas, Filosofia e Medicina, como investigador convidado do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa (desde 2005).
Título:
Dos infinitos orgânicos: conjecturas, negações e tablaturas
“Quem? O Infinito?/ Diz-lhe que entre./ Faz bem ao Infinito/ Estar entre gente.” Alexandre O’Neill
Resumo:
Lêem-se com gosto os textos filosóficos e os apontamentos de história das ciências de Engels. Neste estudo interessamo-nos por propriedades infinitas na determinação de tablaturas e mecanismos orgânicos e, muito pontualmente, da relação corpo-mente. Partimos das noções de bom e mau infinito de Hegel e de Engels. Exploramos algumas implicações para uma teorização acerca do organismo e da biologia. Pensamos que a dialéctica, entendida como doutrina da dupla verdade, ou como dialeteísmo, é um instrumento multi-usos perigoso para problemas mal postos, na luta política e nos conflitos de ética. Mas é uma tenaz necessária em situações extremas, fenómenos holísticos, passagens da quantidade à qualidade e superveniência de propriedades em sistemas complexos
Palavras chave:
organismo, homeostase, consciência, infinito, probabilidade
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Mario Soares Neto
Advogado, professor e pesquisador. Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal da Bahia – PPGD/UFBA. Militante Político no Brasil; tem atuação no âmbito dos movimentos sociais e organizações populares. Coordenou o Curso Marxismo e Pan-Africanismo: Uma Introdução às lutas de classes na África e Diáspora Africana, (2018; 2019). É tradutor (inglês para português) da obra Pan-Africanism: A History, do professor Hakim Adi (Universidade de Chichester, Reino Unido).
Título:
Friedrich Engels & a crítica da economia política
Resumo:
Friedrich Engels (1820-1895) contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento da teoria marxista como um todo. Desde os Deutsh-Französische Jahrbücher (Anais Franco-Alemães), periódico editado em Paris em fevereiro de 1844, organizado por Karl Marx (1818-1883) e Arnold Ruge (1802-1880), o estudo sobre Economia Política, com base, principalmente, em Adam Smith, David Ricardo, John Mac Culloch e James Mill, se apresentou como um terreno prioritário para Engels. Na referida publicação, que teve apenas uma edição, constou o seu famoso artigo enviado da Inglaterra “Esboço de uma crítica da economia política”, que, dentre muitos feitos, cumpriu papel de definir os rumos das investigações de Marx e do projeto de crítica da economia política desenvolvido por ambos, cuja expressão máxima se deu em O’ Capital (1867). Após mais de duas décadas, em 1878, atendendo ao pedido da social democracia alemã, com o objetivo de combater o pensamento político e filosófico do economista positivista Eugen Karl Dühring (1833-1921), Engels realizou importante sistematização sobre variados assuntos teóricos, dentre os quais aqueles relativos à economia política. Na sua concepção, tal “ciência essencialmente histórica” passou (e passa) por processos ininterruptos de transformação, como parte do movimento da própria realidade sócio-histórica. No presente artigo, iremos perquirir o objetivo de analisar as origens e desenvolvimento da economia política, cotejando, fundamentalmente, as obras de Engels, os “Esboços” e Anti-Dühring, buscando captar como o autor formulou as passagens acerca das origens desta ciência burguesa, destacando o debate sobre seu objeto e método. Ao longo do texto, ao realizarmos as mediações necessárias, certamente, teremos as condições para demonstrar a centralidade do projeto de crítica da economia política, enquanto formulação atrelada à noção de práxis e totalidade. O nosso trabalho compreende a economia política marxista como a ciência do proletariado teleologicamente direcionada para a transformação do mundo, que, através da revolução proletária e o advento do socialismo, poderá desenvolver o processo complexo de superação (Aufhebung) do capitalismo e da ordem do capital.
Palavras-Chave:
Engels; Marx; crítica da economia política; objeto; método.
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Miguel da Costa Paiva Régio de Almeida
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra; Escola Superior de Tecnologia e Gestão – Politécnico de Leiria
Miguel Régio de Almeida é licenciado em Direito, mestre e doutorando em Ciências Jurídico-Filosóficas, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo desenvolvido um corpo de trabalho sobre temas variados, privilegiando a Filosofia dos Direitos Humanos e os Estudos Críticos do Direito. Actualmente é também Assistente Convidado na Escola Superior de Tecnologia e Gestão – Politécnico de Leiria, onde lecciona Introdução ao Direito e Teoria Geral do Direito Civil. Através da heurística académica, procura promover o Pensamento Jurídico Crítico, reavivando e abordando contra-hegemonicamente os elos entre o Direito e as Humanidades.
Título:
Friedrich Engels: um precursor do Pensamento Jurídico Crítico
Resumo:
Conquanto o Direito tenha sido uma área marginalmente trabalhada por Karl Marx e Friedrich Engels, o certo é que este último veio a revelar uma sensibilidade genérica para com o foro e inclusive para com alguns dos seus problemas centrais, como resulta dos seus trabalhos mais famosos. Em retrospectiva, tal percurso intelectual eleva-o a uma posição de precursor – e, ergo, de interlocutor incontornável – nas diatribes dos modernos Critical Legal Studies. Procuraremos aqui apenas alumiar e compaginar alguns desses contributos para a juridicidade, consolidando Engels também nesta área enquanto um referente intelectual inestimável.
Designadamente, em Para a questão da habitação (1872), de oposição dialógica a Pierre-Joseph Proudhon, Engels não só desenha a arquitectura da sociedade burguesa a partir da problemática habitacional, como versa sobre um topos jurídico essencial, a oposição ente o campo e a cidade. Tal fronteira tem-se revelado a marca histórica fomentadora de muros, o nomos que é ainda hoje óbice à cogitação jurídica dos Bens Comuns.
Ademais, no enciclopédico Anti-Dühring (1878), em que Engels trata holisticamente de Filosofia, Economia Política e Socialismo, é reservado um lugar à distinção crucial entre a Moral e o Direito. Perante este problema caracteristicamente jusfilosófico, Engels delineia uma caracterização do mundo da juridicidade que é veramente precursora dos trabalhos desenvolvidos nas últimas décadas pelo Pensamento Jurídico Crítico, identificando as linhas mestras do que deve ser uma autêntica atitude crítica (à maneira foucaultiana) nesta seara.
Já no icónico A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884), Engels explora esta génese a partir da leitura de um dos primeiros clássicos (Ancient Society, de Lewis Morgan) do que se tornaria a área da Antropologia do Direito. Aquela obra ilustra a formação do Direito da Família hodierno, marcado pelo patriarcado e pelo proprietarismo, levando a que o livro de Engels seja um pilar indispensável tanto para os estudiosos conservadores como para os dissidentes daquela área dogmática.
Como chave-de-ouro, dissertou inclusive sobre o Socialismo Jurídico (1887) a devir. Lidamos, enfim, com o intelectual que caracterizou o «direito à revolução» como o único «direito histórico». Como pode um jurista sequer ousar ignorar Friedrich Engels!?
Palavras-chave:
Critical Legal Studies; Origem da Propriedade; Direito da Família; Socialismo Jurídico; Direito à Revolução
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Mikhael Lemos Paiva
É pesquisador e mestrando em Ciência Política pela Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’ (UNESP), Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Marília, Brasil. Foi ex-pesquisador visitante na Università degli Studi di Urbino ‘Carlo Bo’ (UNIURB), Urbino, Itália; tem como interesses de pesquisa Filosofia Política e Filosofia da Ciência; atualmente possui bolsa da Fundação do Estado de São Paulo (FAPESP), nº 2019/20402-2, da qual este trabalho é inseparável e derivado.
Titulo:
Friedrich Engels, Stephen Jay Gould e a influência engelsiana na Biologia do Século XX: o embate entre o Gradualismo Filético e o Equilíbrio Pontuado
Resumo:
Este trabalho expõe sinais de confluência entre Friedrich Engels e sua ontologia na formulação teórica-metodológica de dois dos chamados “biólogos dialéticos”, Stephen Jay Gould, e Niles Eldredge, aglutinando resultados parciais de um projeto em andamento. Visando garantir clareza expositiva óptima, concatenaremos nossa análise por três momentos: 1) a exposição da dialética da natureza engelsiana e seu contexto histórico, com a caracterização tanto da parte ontológica (‘três leis da dialética’), como epistemológica (realismo científico) de sua Filosofia; 2) Introdução a respeito do panorama entre Biologia e marxismo ao longo do século passado, envolvendo polêmicas, confluências e nomes de peso como Richard Dawkins, Levins, Lewontin e Ernst Mayr; 3) Finalmente, o embate entre ambos o Gradualismo Filético – teoria evolutiva que vê a especiação como lenta, gradual e repleta de subespécies intermediárias – e o Equilíbrio Pontuado – donde, ao contrário, a especiação aconteceria de forma rápida, abrupta e pontuacional, o que inviabilizaria a existência de subespécies. Serão coagulados, em nossa síntese, os nexos determinativos que visam esclarecer e respaldar nossa tese: que as três leis da dialética engelsiana possuem complementariedade com noções intuitivas do naturalismo, tendo a Filosofia de Friedrich Engels, em especial sua lei de Transmutação de Quantidade em Qualidade, agido como forte influência em Jay Gould e Nilles Eldredge ao construírem e formularem seu sistema evolutivo.
Palavras-chave:
Filosofia da Biologia; Friedrich Engels; Stephen Jay Gould; Evolucionismo; Dialética.
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Paulo Cesar Duarte Paes
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – Brasil
Professor associado do curso de Artes Visuais na Faculdade de Artes, Letras e Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.- UFMS. Pós-doutorado pela UEL. Doutorado pela UFSCar. Coordenador do GEEHU – Grupo de Estudos Educação, Vigotski, Artes e Emancipação Humana e, desde 2007 – UFMS.
Título:
O fundamento Engelsiano da Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski
Resumo:
Ao revolucionar a Psicologia, Vigotski ganhou notoriedade em todo o mundo porque comprovou cientificamente que o psiquismo resulta da apropriação ativa da cultura historicamente produzida. O autor criticou as abordagens inatistas e idealistas que compreendem que o desenvolvimento acontece de dentro para fora do indivíduo, como se fosse uma planta (VIGOTSKI, 2001b e 2001c). Também criticou a concepção empirista de que o mundo externo proporciona o desenvolvimento do psiquismo passivo mediante as contingências ambientais. O seu fundamento para a crítica ao não cientificismo na psicologia é o materialismo histórico e dialético: a consciência é síntese histórica de múltiplas determinações. Porém, é a atividade do indivíduo na realidade que promove a apropriação (ativa) da cultura, o desenvolvimento e a sua humanização. O conceito de atividade é central na Psicologia Histórico-Cultural e teve como o principal pressuposto os estudos sobre as categorias trabalho e dialética desenvolvidos por Engels (2015, 2012, 1974 e 1986). Vigotski (2001a, 2001b, 2001c, 1996a, 1996b e 1995) faz extensas citações sobre o conceito de trabalho em Engels como o fundamento central da sua teoria para dar o salto revolucionário representado pela Psicologia Histórico-Cultural. A afirmação de Engels (1974) na obra Dialética da natureza de que o trabalho é a condição fundamental e primeira da vida humana e que o trabalho criou o próprio homem é o principal fundamento filosófico utilizado por Vigotski para demonstrar que a atividade humana é a unidade que proporciona ao mesmo tempo a apropriação da cultura e o desenvolvimento do indivíduo. O trabalho no desenvolvimento histórica da humanidade produz um excedente de mercadoria que se transforma em propriedade rompendo com o meio de produção comunal e impondo formas de dominação (ENGELS; 2012), também é utilizado por Vigotski (1986 e 1995) para compreender a historicidade do psiquismo. As inúmeras leituras equivocadas e liberais do pensamento vigotskiano devem-se a ausência da apreensão materialista, histórica e dialética, de que o trabalho é a atividade transformadora da natureza que produz a humanidade na totalidade histórica e, ao mesmo tempo, na singularidade psíquica.
Palavras-chave:
trabalho; atividade; dialética; Psicologia.
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Reihnahe Saremi
Ph.D. student of Social Science, University of Tehran, Iran.
Social researcher on informal settlements and marginalized citizens; social activist in the field of poverty and development, the main member of the sociology of religion and Shitte studies research group in Tehran, the author, and co-author of three books concerning the sociology of religion.
Título:
The religious mask of revolution: a study on Engels’ view on religion
Resumo:
The Peasant War in Germany, written in summer 1850, was influenced by the victory of anti-revolutionaries in London. Engels tries to declare the 1848 revolution parallel to peasant war in 1525, believing these two to be rooted on the same ground. This comparison moves Engels through significant theories in sociology of religion. It can be said that the main idea of the book is that religious struggles are simply class struggles. This article tries to concentrate on this idea and by extracting four main key concepts of Engels on religion, draws the cohesive structure which brings these thoughts in this main theory. In addition it aims to compare this understanding of Engels with the well-known Marxian social approach
The first main keyword of Engels is the “Religious mask”. In his historical study of the movement Engels argues that religion is simply a mean for expressing social, economic and class-centered needs and hence is only a mask (superstructure) of the main demands. He also focuses on a “revolutionary religion” which is explained by the comparison between the two main religious movements at the time in Germany: the movement lead by Martin Luther and the movement lead by Thomas Müntzer. Müntzer represents a religious interpretation which stands against the power and supports the peasants’ oppositions. Engels tries to talk about a revolutionary ideology which may seem contradictory in the Marxian terminology. This point of view leads him to the concept of “religious sects” and “carriers of religion” which both aim to picture forms of religion covering class benefits. Bringing these four concepts together, Engels pictures religion as a mean for expressing class demands. An idea which does not necessarily coincide Marxian approach
Key words:
Engels, Religious mask, Revolution, Religious Sects, Carriers of Religion
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Sara P. Totta
É licenciada em Filosofia pelo Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Actualmente, encontra-se em fase de conclusão do Mestrado em Filosofia na mesma instituição, visando o estudo da categoria dialéctica da totalidade na ontologia de Karl Marx, com a orientação do Prof. Doutor José Barata-Moura. Para além do estudo da filosofia marxista, e no contexto deste, as suas principais áreas de estudo centram-se no “Idealismo Alemão”, em especial Hegel, Fichte e Kant, e a metafísica de Aristóteles. Foi bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia em 2008 e 2011 e bolseira da Fundação Amadeu Dias, dedicando-se ao estudo de Husserl e Heidegger, com especial ênfase para o último sobre o qual versou a sua dissertação de licenciatura.
Desde 2010, é membro do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, integrada na linha de investigação dedicada à História da Filosofia, com o qual tem vindo a colaborar em diversos eventos científicos promovidos por aquela instituição. É também, desde 2010, membro do Grupo de Estudos Marxistas.
Actualmente, é bolseira do Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa e frequenta o Mestrado em Filosofia Geral da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na mesma universidade, trabalhando numa dissertação dedicada à ontologia e teoria do conhecimento de Hegel sob a orientação do Professor Doutor João Constâncio
Título:
Seria Engels um “engelsiano”? Da comunhão filosófica entre Marx e Engels.
Resumo:
Os manuscritos filosófico-científicos de Friedrich Engels que viriam a ser publicados sobre o título Dialéctica da Natureza, em 1925 na URSS, haveriam de inicar um intenso debate em torno da possibilidade de se aplicar aos fenómenos naturais e suas ciências o método dialéctico, que até então havia sido mormente desenvolvido no quadro de uma reflexão sobre a historicidade da agência humana materialmente transformadora e os processos de determinação desta prática. Filósofos como Gyorgy Lukacs e Karl Korsch recusaram peremptóriamente a ideia de uma dialéctica reificada na natureza enquanto tal, isto é, quando considerada independentemente da intervenção prática humana, acusando Engels de distorcer o próprio sentido da dialéctica hegeliana e apresentar uma visão metafísica e um determinismo incompatíveis com o suposto pensamento originalmente marxista. Nos últimos anos, o comentador marxista Norman Levine tem vindo a radicalizar esta crítica, argumentando que Engels e Marx tinham, de facto, pensamentos filosóficos distintos, sendo mais apropriado falar-se de um marxismo e de um “engelsismo” (Veja-se Divergent Paths. Hegel in Marxism and Engelsism, obra publicado em 2006) De acordo com Levine, a principal diferença entre o pensamento dos dois autores do Manifesto do Partido Comunista repousa numa interpretação distinta dos princípios da dialéctica hegeliana.
Na presente comunicação procuraremos analisar os principais argumentos apresentados por duas figuras de referência da leitura, passo a expressão, “anti-marxista” do pensamento de Engels, a saber Lukacs e Levine, tentando do mesmo passo clarificar a compreensão engelsiana do conceito de dialéctica e a sua relação filosófica com Marx.
Palavras-chave:
Engels, dialéctica da natureza, materialismo, hegelianismo.
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Selma Totta
Licenciada em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Encontra-se a terminar o Mestrado em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, dedica a sua investigação a problemas de ontologia e gnoseologia, no contexto da Filosofia Moderna. Foi bolseira pela FCT em 2010 e 2011. Membro do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Membro do Grupo de Estudos Marxistas (GEM).
Título:
Engels e o contributo cartesiano para o materialismo científico
Resumo:
Na história da Filosofia, Descartes representa a instauração da subjectividade como ponto de partida necessário para a fundamentação de princípios sólidos, garantindo a partir das suas meditações metafísicas não só os pilares para uma nova Ciência, como a irradicação de qualquer cepticismo acerca da possibilidade conhecer a verdade das coisas. Diríamos, e bem, que a obra cartesiana abriu caminho e definiu o terreno próprio de toda a reflexão filosófica idealista subsequente, pelo menos até Hegel.
Parece ser quase incoerente que Engels, em obras como Anti-Duhring e Feuerbach e a Saída da Filosofia Alemã Clássica, atribua também a Descartes os gérmines do pensamento materialista. Porém, de facto o filósofo moderno, ainda antes das Regras para a direcção do Espírito, redigira uma obra, publicada postumamente sob o título Le Monde, onde apresenta um conceito positivo de matéria e as suas leis internas, o que acelerou não só a autonomização da Ciência face a uma metafísica teologizada, mas também possibilitou a problematização dos fenómenos a partir da materialidade que os constitui.
O propósito desta nossa reflexão é precisamente explicitar a pertinência da leitura de Engels do conceito de matéria cartesiano e das suas leis do movimento, como também aproximar estes dois grandes filósofos numa mesma ambição: a instauração de uma nova epistéme e a desmistificação da Natureza enquanto dotada de princípios próprios e de organização interna, sem que esta esteja dependente da intervenção de entidades que lhe são exteriores, abrindo assim caminho a teoria imanentistas, como seria posteriormente o caso de Espinosa, o mais consequente dos cartesianos.
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Tamara Caraus
Tamara Caraus is a researcher within the project Cosmopolitanism: Justice, Democracy and Citizenship without Borders, founded by the Portuguese Agency for Science, Research and Technology (FCT), and carried out at the Centre of Philosophy, University of Lisbon. Previously, Tamara Caraus conducted research projects in political philosophy at Oxford University, University of Uppsala, Palacky University of Olomouc, University of Groningen, University of Rijeka, New Europe College, Vienna Institut fur die Wissenschaften vom Menschen, Polish Academy of Science, University of Bucharest and other institutions. Her current areas of research include continental political philosophy, political theory of cosmopolitanism and critical theory of work. She contributed with articles to various academic journals and edited volumes, published four books and co-edited Cosmopolitanism and the Legacy of Dissent (Routledge 2014), Cosmopolitanism without Foundations (Zeta Books 2015), Re-grounding Cosmopolitanism. Towards a Post-foundational Cosmopolitanism (Routledge 2016), Cosmopolitanism and Global Protests, a special issue of Globalizations journal (2017), and Migration, Protest Movements and the Politics of Resistance: A Radical Political Philosophy of Cosmopolitanism (Routledge 2018).
Título:
Engels’s critique of “bourgeois cosmopolitanism” and the prospects of a radical cosmopolitics
Resumo:
“The bourgeoisie has through its exploitation of the world market given a cosmopolitan character to production and consumption in every country” says the Communist Manifesto, the same text that states that “The working men have no country” and ends with the famous call “Working men of all countries, unite!”. But if the consumption and production has a cosmopolitan character, then what is the character of having no country and uniting in order to throw the only thing which according to the manifesto, the workers have – their chains – if not a cosmopolitan one? These affirmations point to a tension implicit in most of the texts authored by Marx and Engels and which attest both the global character of the capital and the necessity of a global character of the proletariat struggle. However, this double global dimension generated misunderstandings in the whole history of Marxism, reducing cosmopolitanism to the world market and bourgeois worldview, while the proletariat struggle was framed as internationalism, thus overlooking the prospects for a radical cosmopolitics starting from Marx and Engels’ texts. The aim of this paper is to clarify the tension between the two global dimensions, by analysing the first text where it was formulated – Engels’ pioneering text from 1843, Outlines of a Critique of Political Economy that, according to Marx, had a tremendous influence on his own intellectual trajectory. In Outlines, Engels elaborates the first critique of global capitalism and denounces the hypocrisy of bourgeois cosmopolitanism and its “philanthropy”which lead to “a system of despair which struck down all those beautiful phrases about love of neighbour and world citizenship”. However, Engels’criticism of cosmopolitanism was not formulated from a local or national perspective, instead, he expressed in this text a view that later became central to his and Marx’s theory: despite its brutality, global capitalism fulfils a progressive historical role, laying the groundwork for a higher level of universalism, so that the struggle of could become a universal human struggle. The paper will argue that the “true cosmopolitanism” of the proletariat struggle, contrasted with “hypocritical bourgeois cosmopolitanism” (or what is called today ‘globalisation’), contains the elements of radical cosmopolitics: workers as actors in the world as a whole, practicing a critical politics from below, contesting the existing world order based on nation states, and addressing the roots of the global injustice/exploitation. As well, in this political action, cosmopolitan and communist horizons tend to become one, and the concluding part of the presentation will examine the degree in which these horizons overlap, making the radical cosmopolitics the real stake of struggle against global injustice, both in Engels’ time and now.