HPhil Seminar: 1 June 2017

June 1, 2017 6:00pm

1 June 2017, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Sala Mattos Romão

Éros Filosófico e a figura de Sócrates como amante de belos jovens

Guilherme Motta
(Universidade Católica de Petrópolis)

Compreender o Sócrates dos diálogos platônicos como um homem animado por éros implica em reconhecer duas dimensões dessa personagem tomada por uma forma específica de éros: o éros filosófico. Em primeiro lugar, trata-se de um homem que passou por uma conversão, fato que o transformou num apaixonado pela mais alta forma de conhecimento; em segundo lugar, é um homem que, após tal conversão, tornou-se, como diz o Banquete, “fecundo na alma”, ou seja, alguém que experimenta urgência em transmitir seus conhecimentos quando encontra um receptáculo adequado. Quanto à primeira dimensão é preciso reconhecer que depende da aquisição de uma dýnamis que o leve ao mesmo tempo a ser capaz de reconhecer a existência e o valor da forma mais alta de conhecimento: o conhecimento das ideias. Quanto ao “fecundo na alma”, este pode representar, em boa parte do Banquete, o homem que capaz de guiar os jovens no caminho da aquisição da virtude cívica e que se engaja numa relação pederástica com eles. Também a personagem Sócrates pode ser considerada alguém que  estabelece relações “pederásticas”, as quais, todavia, são de natureza singularíssima. Se, por um lado, Sócrates é “grávido” da virtude “epistêmica”, a qual vai além da virtude cívica tradicional, por outro lado, Sócrates não se interessa pelo corpo dos jovens que guia, nem deles espera favores sexuais. Uma interpretação unitária desta personagem através dos diálogos permitirá sustentar que Sócrates não está nem mesmo sexualmente atraído  pelos jovens que guia, ainda que uma abordagem superficial de certas passagens possa sugerir o contrário.

 

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